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Mundo das coisas, pessoas, palavras e imagens

Má-fé

(Mauvaise Foi). BEL/FRA, 2006. De Roschdy Zem. Com Cecile de France e Roschdy Zem.


Cotação: êêê (ótimo)


Filme é adequado à França atual


“Má-fé” é uma comédia romântica, gênero muito comum em Hollywood. Mas esse filme francês diferencia-se por seu frescor e por discutir questões caras, que passam ao largo nas comédias românticas norte-americanas.

Clara é uma francesa judia e Ismael, seu namorado árabe. Os dois namoram há quatro anos, e tudo vai bem, até que a moça engravida e as diferenças étnico-culturais e o preconceito entre franceses e árabes afloram quando decidem assumir o relacionamento. No cinema francês, a diferença rende bem mais que no cinema norte-americano, que explora a dicotomia mexicano-americana e a “latinização” do país. Exemplo é “E Agora, Meu Amor?”, com Mathew Perry e Salma Hayek. Lógico, a realidade francesa é diferente e mais séria que a norte-americana. O país vem sendo invadido por imigrantes de países árabes e sua cultura não-ocidental, enquanto os Estados Unidos recebem principalmente latinos, vindos do México, El Salvador, República Dominicana, Brasil, etc. Nos noticiários, vemos casos de discriminação dos franceses para com os imigrantes, que descaracterizariam o país com sua aparência e costumes. Outro sinal da atualidade do filme, passa pelo congresso francês polêmico projeto de lei que proíbe as mulheres de usarem a burca, traje típico dos países muçulmanos mais radicais, em lugares públicos.

As religiões e seus dogmas e tradições são questionados na medida em que atrapalham a felicidade das pessoas num mundo globalizado. Há espaço, entre os mais jovens, para o ultratradicional? Não, e o título do filme é feliz na medida em que uma fé – ou uma religião – pode prejudicar o entendimento entre pessoas que dela não compartilham. Nesse ponto, a fé é algo má. Os rótulos e estereótipos que a sociedade exige para as pessoas também são questionados. Exemplo: numa família islâmica, o filho mais velho é músico, e a filha menor joga futebol (daí ser apelidada “Ronaldinho”) – quando o normal seria o contrário.

Em momento nenhum o filme cai na superficialidade de que “os opostos se atraem”, armadilha que seria fácil, ou do casamento como pré-solução para os problemas. Uma síntese e achado ocorrem quando clara, questionada por Ismael sobre o que será do filho deles, se ele será muçulmano, judeu ou o quê, responde: “nenhum dos dois, será francês”. É o próprio país revendo sua identidade, mas, a partir do filme, com otimismo, vitalidade e apoiado por ótimo e carismático elenco.


Obs.: Esse foi um dos últimos filmes do grande ator Jean-Pierre Cassel (1932-2007) de, entre outros, “O Discreto Charme da Burguesia”.


Assistido no cinema Praia Grande, em São Luís-MA, 11/11/2010.
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O Tigre e o Dragão (Crouching Tiger, Hidden Dragon)



Tailândia/China/Estados Unidos, 2000. Direção: Ang Lee. Com Chow Yun-Fat, Michelle Yeoh e Zhang Ziyi. 120 min. Guerreiro pede a amiga que leve sua lendária espada. Quando chega ao destino, a espada é roubada.



Cotação: êêê (ótimo)


Uma lendária espada chamada “Destino Verde”, pertencente a legendário guerreiro agora em crise existencial; sua companheira de lutas de longa data; uma rebelde princesa adolescente; e Raposa Jade, guerreira famosa por cometer atos desonrosos. Todos eles são personagens de uma bela história passada numa remota China.


Tudo começa quando o mestre wudan Li Mu Bai (Chow Yun-Fat), em crise existencial, decide encerrar uma fase sangrenta de sua vida e começar uma outra, e, simbolizando isso, presenteia um velho amigo, o Senhor Te, com sua lendária espada “Destino Verde”. Para tanto, pede à sua amiga Shu Lien (Michelle Yeoh), também grande guerreira, que faça a entrega da espada. Porém, depois de entregue, a “Destino Verde” é roubada na mesma época da visita do Governador Yu e sua jovem filha Jen (Zhang Ziyi) à casa de Te.


Logo o espectador fica sabendo que Raposa Jade é tutora da princesa Jen e que Li Mu Bai busca vingar-se dela, uma vez que ela havia assassinado seu mestre.


Daí iniciam-se as lutas de artes marciais, uma das duas coisas que o filme tem de melhor. As coreografias incríveis são de Yuen Wo-Ping, de “Matrix” (1999), e estão acompanhadas por efeitos especiais simples mas competentes. Os personagens são capazes de fazer coisas surpreendentes, como planar, saltar direto do chão ao alto de prédios, correr sobre a água, etc. Nesse ponto, “O Tigre e o Dragão” tem um caráter fantasioso, tratando de pessoas com habilidades que não existem e na verdade nem poderiam existir. Mas o filme nos traz uma idéia não de que “não possa existir”, e sim de que “não mais existe”. Isso se deve ao fato de que dentro de sua história o filme trata de pessoas reais, com habilidades possíveis para o mundo em que habitam. Os seus personagens são capazes de fazer o que tudo o que fazem na tela, mas em nenhum momento são tidos como “super-heróis”. Em outras palavras, o espectador é levado a crer que as cenas de luta eram perfeitamente possíveis na época em que se passa a história, porque ela é tão bem retratada que o que era ficção/fantasia no filme praticamente desfaz-se e torna-o uma mistura entre os genêros épico e dramático. Essa é a sua grande sacada.


Para isso grandes personagens são fundamentais. Li Mu Bai é um guerreiro de grande fama, equilibrado e contido; Shu Lien é também famosa e contida, só que ostenta ainda uma força e uma segurança tipicamente femininas, que lhe dão uma falsa natureza de mulher idealizada, ou seja, apenas aparentemente ela é idealizada. Ela parece, à primeira vista, auto-suficiente, mas como qualquer outra pessoa, possui carências. Aí justifica-se o fato de que Li Mu Bai e Shu Lien, amigos de longa data, nutram entre si uma fortíssima paixão bloqueada. São duas pessoas fantásticas que se amam mas que, simplesmente, enfrentam o problema de que uma não consegue dizer à outra o que sente. Assim os dois têm (notadamente Shu Lien) uma falsa aparência de idealização. Já a princesa Jen é, dentre todos os personagens, a mais densa, favorecida por apresentar a ambigüidade típica da adolescência: ora ela comporta-se como a classe alta a que pertence deseja, compromissada com a responsabilidade que envolve os que estão no poder; ora ela dispara  seu lado de guerreira (sim, a princesa Jen é também grande guerreira, graças a ensinamentos de Raposa Jade, como o espectador verá). Deseja ela fugir da responsabilidade e do conforto, mas recusa todas as ofertas que lhe são feitas. De várias maneiras pode ser vista, mas uma frase de Raposa Jade me parece a que melhor a define: “aos oito anos e já era um poço de falsidade”. Por fim, Raposa Jade é a grande vilã da história mas é também alguém que ama outras pessoas, que sofre injustiças e que busca a felicidade.


Claro que tudo isso não seria possível sem a ajuda de um grande elenco. O trio de mulheres é o grande destaque nessa área, e dentre elas Michelle Yeoh é a melhor. Uma injustiça ela não ter ao menos concorrido ao Oscar de melhor atriz.


Assim, as maiores qualidades do filme estão nas suas cenas de lutas e na complexidade de seus personagens.


Direção de arte, fotografia e figurino são mais méritos de “O Tigre e o Dragão”, que faturou a estatueta nas duas primeiras categorias e recebeu indicação na terceira. Os efeitos especiais usados são um espetáculo, mas não um espetáculo à parte, o que no caso aqui é bom, porque naqueles em que os efeitos especiais são um “show à parte”  eles quase sempre parecem pertencer fora ao filme (e vice-versa), ficando desacoplados, isolados, como se assim fosse: “olhe, veja, agora teremos uma cena com tal efeito especial! E daqui a pouco outra, feita só com computação gráfica”. Já o roteiro pode até ser acusado de desperdiçar boas possibilidades e supervalorizar algumas menores, mas ele é sem dúvida outro destaque do filme.


Um filme também oriental, que fez muito menos sucesso que “O Tigre e o Dragão” mas que podemos considerar como o antecessor deste, é “Entre o Amor e a Glória” (1993), do diretor Ronny Yu. O grande problema de “Entre o Amor e a Glória” é o fato de ele ser um épico pouco definido entre  comédia, drama e fantasia. Mas ambos os filmes têm histórias belíssimas e personagens idem. Porém pesa em “O Tigre e o Dragão” a densidade que Ang Lee impôs em seu filme (e também o orçamento).


Elenco, personagens, coreografias, direção de arte e fotografia: esses são os grandes méritos de “O Tigre e o Dragão”. Claro que não se pode esquecer de seu diretor, que reuniu os elementos de maneira harmônica e fez um filme denso, bem ao agrado da Academia.



Assistido em 26/03/2001, no Cinema Colossal I

Segue abaixo uma cena de luta do filme. Para mim, é uma das melhores da que já vi. São mais de três minutos de tirar o fôlego:



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O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring)
Estados Unidos/Nova Zelândia, 2001. Direção: Peter Jackson. Com Elijah Wood, Ian Mckellen e Viggo Mortensen. 178 min. Na Terra-Média, o hobbit Frodo recebe de seu tio Bilbo Bolseiro anel maligno que deve ser destruído.


Cotação: êê (Bom)


Ao longo dos anos 40/50, o inglês J. R. R. Tolkien escreveu a trilogia “O Senhor dos Anéis”, uma obra monumental e originalíssima para sua época: criando um mundo fantástico, um planeta Terra que não existe mais no qual convivem anões, elfos, orcs, humanos e várias outras raças, Tolkien foi um visionário e influenciou tudo sobre o tema que surgiu posteriormente, de jogos de RPG´s a Guerra nas Estrelas, do desenho animado Caverna do Dragão ao filme Dungeons & Dragons, e muito mais... Aliás, foi com Tolkien e sua primeira grande obra, “O Hobbit”, na qual ele já traçava os contornos de “O Senhor dos Anéis”, que começaram a surgir os jogos de RPG´s, que, se não são tão conhecidos no Brasil como em outros países, popularizaram-se nos Estados Unidos com o decorrer dos anos 70 e hoje reúnem milhões de adeptos. RPG significa Rolle Playing Game, ou “Jogo de Representação de Papéis”, consistindo mais ou menos no seguinte: cada jogador assume o papel de um herói,  dotado de características próprias que, num mundo imaginário, tem de cumprir missões e para isso enfrentar monstros, resgatar pessoas e encontrar tesouros, entre muitas outras coisas... obviamente, cada herói tem habilidades e armas, mas quem decide tudo o que ele faz, quem o interpreta, é o jogador... enfim, são como um filme, no qual os jogadores são os atores e o chamado Mestre do Jogo, o Diretor: é ele quem “conhece” o roteiro, e coloca a situação com que os heróis irão se defrontar. Pois então, é “O Senhor dos Anéis” precursor dessa modalidade de jogos em que o principal resultado é a criação de todo um perfil e um histórico de cada personagem e a delineação das características dos lugares onde transcorrem as ações. Nada mais claro em “O Senhor dos Anéis” que essas duas coisas.

Por isso, com a explosão dos RPG´s nas décadas de 80 e 90, e o sucesso desenho animado Caverna do Dragão (um autêntico jogo RPG), Tolkien e sua literatura estão atualíssimos: difícil acreditar que o autor nasceu ainda no século retrasado (1892), e que suas publicações sobre a Terra-Média e seus habitantes tenham se iniciado na década de 30. Tolkien era um homem muito à frente de seu tempo, e essa é uma das principais características dos gênios da humanidade.

“O Senhor dos Anéis” é um épico obra colossal em todos os sentidos, de mais ou menos 1800 páginas, nas quais Tolkien traça toda a estrutura da Terra-Média, contando as gerações de reis e nobres e ilustrando seus escritos com mapas. Mesmo que o resultado de votações pela internet sejam mais que contestáveis (veja-se o exemplo de uma recente pesquisa na qual Michael Jordan venceu Pelé como atleta do século), não foi à-toa que “O Senhor dos Anéis” foi eleito “O Livro do Século” pelos internautas. De qualquer maneira, indiscutivelmente “O Senhor dos Anéis”  é uma obra-prima da literatura, por sua imaginação, antecipação e densidade.

A grande importância do livro, a que já nos referimos, juntamente com um elenco estelar, um diretor que já mostrou serviço, 300 milhões de dólares e a promessa de muitos efeitos especiais fizeram de “O Senhor dos Anéis” o grande lançamento dos últimos tempos e também, uma das grandes promessas. Na verdade, já era tempo de “O Senhor dos Anéis” ganhar uma adaptação para o cinema. Existe, porém, uma adaptação anterior, um desenho animado, de meados da década de 70, mas ele é bastante obscuro.

Vamos à história: “O Senhor dos Anéis” passa-se na Terra-Média e começa quando Bilbo Bolseiro (Ian Holm, perfeito no papel), um hobbit (seres parecidos com pessoas, mas de estatura mais baixa e atarracados), ganha numa aposta com a criatura Gollum o chamado Um Anel. Este, descobre-se, é um anel maligno que é a encarnação do inimigo Sauron que, gerações e gerações passadas, o forjou  para “a todos dominar”, usando do seguinte plano: forjou vários anéis, entregando três para líderes elfos, sete para os anões, e nove para os humanos. O truque usado por Sauron foi justamente forjar para si o chamado Um Anel, que tem o poder de controlar os demais, além de dar a quem o usa grande poder (inclusive vida longa e o poder de tornar invisível), poder esse que, porém, traz um custo ao portador: sua alma. Com o plano feito, Sauron deflagrou uma grande guerra, mas, depois de muitas baixas, foi derrotado, sem que, porém, o Um Anel viesse a ser destruído: o rei humano Isildur recusou-se a destruí-lo, preferindo guardá-lo consigo, até que, após ser morto numa emboscada, o Um Anel tenha se perdido por longo tempo, até ser encontrado por Gollum e ter enfim passado para as mãos de Bilbo Bolseiro, morador do Condado, região isolada onde vive a pacífica raça dos hobbits.

Bilbo é grande amigo do poderoso mago Gandalf (Ian Mckellen), membro de uma ordem chefiada pelo mago Saruman, o Branco (Christopher Lee, mais que perfeito no papel). Gandalf logo alerta Bilbo que seu anel não é um qualquer, e sim o Um Anel da velha história passada geração após geração. O problema é que o poder de Sauron parece ter renascido na distante Mordor, e ele está disposto a tudo para recuperar seu Um Anel. Bilbo, consumido por anos carregando o anel, decide junto com Gandalf transmiti-lo a seu sobrinho e herdeiro, Frodo Bolseiro (Elijah Wood), mas já é tarde demais: as tropas de Mordor já se encontram no Condado atrás do Um Anel.

São ainda hobbits os amigos de Frodo Sam Gamgi, Pipin e Merin. Completam os “mocinhos” Aragorn (Viggo Mortensen), amigo de Gandalf e herdeiro do trono de Isildur, Gimli, filho de Glóin, representante da raça dos anões, Legolas, representante dos elfos, e Boromir (Sean Bean, surpreendentemente ótimo no papel), da fortaleza humana de Minas Tirith.

Já em cima da hora, devemos ressaltar que o livro “O Senhor dos Anéis” consiste numa trilogia, que tem início com “A Sociedade do Anel”, prossegue com “As Duas Torres” e encerra-se com “O Retorno do Rei”. O primeiro filme é justamente “A Sociedade do Anel”, sendo que os dois seguintes têm lançamento previsto para o Natal de 2002 e 2003. Cada filme, pois, corresponde a um volume.

O roteiro do filme foi bastante fiel ao livro. Foram feitas duas alterações para tornar o livro um pouquinho mais atual, a meu ver totalmente desnecessárias: digamos que uma atualização feminista (maior papel dado à guerreira Arwen) e outra biogenética (a mistura de genes com a criação de poderosos bichos metade humanos, metade orcs). Tiveram, sim, outras alterações, sendo a principal a supressão do personagem do fazendeiro Tom Bombadil, sendo as demais alterações apenas detalhes. Todos os passos da saga foram seguidos cronologicamente pelo roteiro.

Reside justamente aí um dos grandes problemas do filme. O livro de Tolkien é riquíssimo em detalhes, e sua escrita bastante tranqüila, de maneira que a leitura vai fluindo facilmente de uma passagem a outra da história. Passa-se do Condado a Bri, de Bri ao Topo do Vento, deste a Valfenda, e por aí vai, tudo de maneira agradável de se ler. Quando essas passagens foram transpostas para a telona, resultaram em seqüências que vão ficando um pouco longas e cansativas. O diretor/roteirista Peter Jackson não deu maior ênfase a nenhuma passagem. Limitou-se apenas a “pintar” o que existe no livro, ou “fotografar”, ou mais claramente, quase todo o tempo de projeção é gasto para mostrar-nos uma direção de arte competente e excelentes efeitos especiais para mostrar às pessoas o universo de pessoas, lugares e acontecimentos imaginado por Tolkien em seus escritos. Faltou ousadia na adaptação, justamente uma das coisas que os realizadores mais prometiam ao público. Por isso, o filme tem partes arrastadas, burocráticas até, carecendo ainda  de consistência em vários momentos, como, por exemplo, para a personagem de Cate Blanchett Galadriel, Rainha dos Elfos. Cate Blanchett está incrivelmente perdida, assim como sua personagem. Por que não dar maior ênfase ao conselho em Valfenda, ou ao “achamento” do anel por Bilbo, ao invés de mostrar perseguições de cavaleiros e descidas de escadas e mais escadas  nas minas perdidas de Moria, ou ainda Gandalf olhando longo tempo para uma borboleta que se transformará num Griffon? Que se encurtasse certos momentos, como a saída do condado, e privilegiasse outros, e se fizesse cortes mais rápidos... “Ben-Hur”, por exemplo, tem seu clímax na corrida de bigas... já em “O Senhor dos Anéis”  é difícil encontrarmos um. Literatura é literatura, cinema é cinema, é esse senso que parece ter faltado a Peter Jackson. A imensa riqueza de detalhes do livro simplesmente não pode ser passada para a tela sem que o filme seja longo demais (longo, nesse sentido, quer dizer bem mais que três horas). Só uma minissérie, ou uma novela, para retratar um único volume do épico em todos os seus detalhes. E foi justamente aí que a direção e o roteiro mais erraram: não privilegiaram nenhum momento, não foi dada maior consistência, maior impacto. Não é para tanto que o filme não surpreende os espectadores uma única vez. Poderia ter sido modificado o roteiro para suprir essas carências sem que ainda assim se retirasse a alma do universo de Tolkien. A impressão que fica é que boa parte da projeção foi gasta para mostrar paisagens e perseguições da Terra-Média criadas em parte por efeitos visuais, e ainda houve abuso da câmera lenta. Com isso, repetindo mais uma vez, o filme ficou “apenas” uma história contada. Resta ver se os dois filmes seguintes corrigirão esses defeitos.

Faltaram ainda no filme músicas cantadas pelos personagens. No livro de Tolkien, vira e mexe os personagens, principalmente os hobbits, estão cantando. As músicas haviam sido prometidas aos fãs, mas isso Peter Jackson ficou devendo.

Elijah Wood como o personagem central Frodo também não convence muito. Ele está mais preocupado em arregalar seus olhos azuis e em mostrar a face rosada de seu personagem que em desenvolver um personagem que combina companheirismo com inteligência e coragem. Já Ian Mckellen como Gandalf está ótimo, combinando o  humor variável e a presença de seu personagem. Christopher Lee como Saruman convence, e é no encontro entre os personagens de ambos um dos momentos mais empolgante do filme.

Por fim, o final do filme termina sendo retrato daquilo que lhe faltou. Ao terminar de ler o volume “A Sociedade do Anel”, o leitor logo se dirige para o segundo volume, de maneira que o final quebrado passa a fazer sentido. Já com o filme não: os espectadores terão de esperar até o Natal de 2002 para conferir a continuação da saga. Era esse final mais uma coisa que o diretor Peter Jackson deveria ter alterado. Mas ele não o fez. E seu filme, que poderia ser o filme de toda uma geração, careceu de momentos mágicos por ter suas melhores partes muito diluídas. O conjunto, em si, não se sustenta tanto.


Assistido em 06/01/2001, no Cinema Colossal I.

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Dançando no Escuro (Dancer in the Dark)


Dinamarca/França/Suécia, 2000. Direção: Lars Von Trier. Com Bjork e Catherine Deneuve. 140 min. Musical que mostra operária, imigrante nos Estados Unidos, que começa a perder a visão.


Cotação: êêêê (Excelente)


“Dançando no Escuro” é um grande filme. Todo ele foi realizado de tal maneira e envolvendo tantos aspectos da linguagem cinematográfica, ou do “fazer cinema”, de modo que o resultado é que o espectador depara-se com uma obra única e arrebatadora.

Selma, interpretada pela cantora islandesa Bjork, é uma imigrante tcheca que está ficando cega. Seu filho sofre da mesma doença dela, e por isso, Selma economiza o salário que recebe na fábrica em que trabalha para poder pagar uma operação que evite que o menino também fique cego. Imigrante de um país comunista, trabalhando duro, e ainda tendo que esconder que está ficando cega para poder manter seu emprego e salário, Selma não tem uma vida nem um pouco fácil. Um de seus poucos momentos de diversão são seus ensaios para um musical em que atuará cantando e dançando.

Os musicais são a grande paixão de Selma. São uma fuga de sua difícil realidade. Não é à-toa que no filme os números musicais surgem a partir dos momentos de dificuldade enfrentados pela protagonista. O filme assume um aspecto nitidamente metalinguístico ao tratar dos musicais, explicando-nos os conceitos que os rodeiam e seus efeitos sobre as pessoas. Os números e músicas aparecem justamente quando menos deveriam, mas o fazendo com ironia e sutileza, justamente para tentar explicar um pouco sobre os musicais e sua gênese, e mais ainda como eles “vivem” dentro das pessoa. Eles parecem surgir como uma explosão dentro de cada um, às vezes quando menos se espera; a própria protagonista em um momento diz que é isso que ela mais gosta nos musicais. “Momentos musicais”, então, fazem parte de cada pessoa, e não é senão outro motivo pelo qual o diretor Lars Von Trier resolveu se incursionar pelo gênero, tão diferente de seus filmes anteriores.

Mas, os números musicais são ao mesmo tempo carregados com o ambiente em que Selma vive: impessoal, preconceituoso, e, como tal, diminuto. O filme é brilhantemente fotografado e esta, como não poderia deixar de ser, exerce papel fundamental para que o espectador compreenda o que os personagens são e sentem, o mundo onde vivem e as idéias que o filme quer passar. 

E tantas idéias são essas... ”Dançando no Escuro” é uma voz contra a intolerância e a opressão, em especial aquela que vem da grande potência do mundo, os Estados Unidos, que insistem em vender a idéia de que são o país da liberdade e das oportunidades, em que mesmo os mais desconhecidos podem, um dia e com  esforço, dedicação e trabalho, tornar-se Presidente da República. O “sonho americano” não passa de ilusão porque o próprio sistema americano é incapaz de conhecer o amor e levá-lo em conta, ainda mais quando esse amor é aquele que vem de um estrangeiro.

As atuações ficaram propositadamente um pouco carregadas pela direção de atores, e o elenco é impecável (Bjork surpreendentemente recebeu o prêmio de melhor atriz em Cannes por sua atuação, mesmo sendo essa sua estréia no cinema). Catherine Deneuve faz o papel da melhor amiga de Selma: sua companheira de trabalho que demonstra senso de amizade, equilíbrio e justiça. Apesar de ela ser apenas coadjuvante, esse é um papel de destaque na carreira de Catherine Deneuve, porque ela se sai brilhantemente fascinante como uma operária meio durona.

O grande responsável pela força de “Dançando no Escuro” é, sem dúvida, seu diretor Lars Von Trier. O roteiro do filme não é tanto, e sim a forma arrebatadora como o diretor contou uma história e atingiu tantos pontos. Isso sem falar que a sua câmera está sempre bem enquadrada e o filme é muito bem montado, duas coisas que podemos notar não apenas quando dos números musicais, e sim ao longo de todo o filme. “Dançando no Escuro” não se parece com nada que há pelo mercado, e seu impacto sobre o espectador tende a ser grande e durável. Estamos falando de uma obra-prima, sem dúvida. Difícil imaginar o estrago que seria entregar um roteiro difícil como o deste filme a outro diretor, principalmente a algum sem tato nenhum com a multiplicidade e o desinteresse como o peculiar a Lars Von Trier. Qualquer lado é sempre compreensível; nada existe apenas para ser alvo de críticas.


Assistido em 18/07/2001, no Cinema Praia Grande.
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O AMOR NO CINEMA


Neste texto trataremos sobre como alguns filmes nos mostram o amor no seu entendimento mais belo, direcionado a qualquer coisa: às palavras e ao conhecimento, a um filho, um amigo, um animal de estimação, etc. Quando escolhemos como tópico deste texto “O Amor no Cinema”, não tivemos a intenção de tratar de filmes com romances, como o leitor pode pensar à primeira vista. Numa lista de filmes assim, com certeza não nos esqueceríamos de Casablanca ou O Paciente Inglês, ou outros grandes filmes que nos contam lindas histórias de amor e luta. Aqui, a questão é outra que não o conceito popular de amor como um romance ligando um homem a sua mulher, e menos ainda a ligação que as pessoas normalmente fazem de que um homem é romântico porque presenteia a namorada com bombons e flores. Sentir amor não se confunde nem um pouco com ser romântico. Trataremos aqui é do amor no sentido mais puro de seu termo.

Com o amor, nasce a redenção, para quem ama; as demais pessoas, porém, quando vêem a situação gerada pelo amor não costumam na maioria das vezes entendê-la, tendo a sensação de que se trata de uma loucura ou de um ato de alguém ou desesperado, ou mesmo nojento, ou qualquer outra coisa... porque o amor só o é para quem sente. Antes de mais nada amar não vê defeitos. É contraditório você dizer que ama alguém, apesar de todos os seus defeitos. Repetindo: amar não vê defeitos, não sente vergonha nem pudor. Amar é o desinteresse total (suas razões são desconhecidas), é a auto-suficiência, é o amar pelo amar. Por isso, é o mais puro de todos os sentimentos. É como estarmos em um outro mundo, independente da nossa realidade, das coisas que normalmente fazemos. Para explicarmos um pouco melhor e continuarmos a desenvolver o tema, selecionamos três filmes: O Destino, Dançando no Escuro e Bem-Amada.

É claro que transpor para um filme um sentimento tão forte não é tarefa fácil. O diretor tem de captar ao máximo a essência, e fazer com que cada movimento de câmera, cada grau de iluminação, cada figurino, enfim, cada toque do filme carregue a dedicação que caracteriza o amor.

O Destino (Al Massir), produção franco-egípcia do diretor egípcio Youssef Chahine, conta-nos a história do filósofo Averroès que, unindo idéias cristãs e clássicas com o Alcorão, passa a ser censurado e perseguido, na Espanha dominada pelos mouros. Mas, como o próprio Averroès escreveu, “as idéias têm asas. Nada pode detê-las”, encerrando o filme com um dos mais otimistas finais da história do cinema. O amor, aliás, é sempre otimista. Ele, em O Destino, dirige-se aos conhecimentos e sua transmissão às pessoas. A Averroès coube muito sofrimento: foi perseguido, teve discípulos mortos e livros queimados em praça pública. Mas o seu objeto de amor, no fim e com muita luta, foi salvo. Nada mais importaria, daí em diante. Seus inimigos podem queimar quantos livros seus quiserem,  expulsá-lo da cidade e confiscar seus bens, porque o vitorioso ainda será ele: a transmissão do conhecimento está garantida, suas obras estarão aguardando as gerações seguintes. O diretor conduziu a caminhada do filósofo de maneira apaixonante (um exemplo são os números musicais do filme) e Averroès foi vivido por um ator competentíssimo e também apaixonado.

A própria palavra Filosofia, que significa “amigo da sabedoria”, mostra-nos o desinteresse que o filósofo deve ter na busca pelo conhecimento. Ele simplesmente deve amar buscá-lo e transmití-lo, pois, como já escrevia Kant, é condição do homem necessitar transmitir seus pensamentos. E isso basta. Não é então sem razão que Amor e Amizade são duas palavras de mesmo radical.

Em Dançando no Escuro (Dancing in The Dark), do diretor dinamarquês Lars Von Trier, o amor vem de uma imigrante de um país comunista do leste europeu que, nos Estados Unidos, luta para que o filho não perca a visão, já que ele sofre da mesma doença genética que está fazendo com que ela vá perdendo a sua. Para a personagem Selma, vivida pela cantora Bjork (que surpreendentemente ganhou a Palma de Ouro de melhor atriz, em Cannes), basta isso: que seu filho não padeça do mesmo mal que ela. Os dois moram numa casinha alugada de um típico casal norte-americano. Ela guarda todo o dinheiro que recebe trabalhando numa fábrica para custear a operação de seu filho, até porque não sabe até quando será capaz de trabalhar. Não lhe importa o que aconteça, e nem o que tenha de suportar. Aí está a pureza do amor: ele não se mistura com “ses”, isto é, com condições e aparências, é algo que basta por si só e que quando vêm não tem, meus amigos, nada que o impeça. “Eles podem até pensar que esta foi a nossa última dança, mas ela só será enquanto quisermos”. O maior hobbie e paixão de Selma são os musicais, e eles funcionam como uma fuga de sua difícil realidade. O que é uma história muito triste é amenizada pelo amor que, como vimos, é sempre vitorioso, pelo simples fato de ser amor, e não outra coisa. Selma é, enfim, condenada à morte pela justiça americana, por matar ao proteger seu dinheiro, e está praticamente cega, mas sua preocupação continua sendo seu filho. E ela consegue, ao final, pagar pela operação. Para o amor, então, não interessa o que os outros pensem ou façam... o amor não pode ser destruído.

O modo de vida norte-americano, o chamado american way of life, tido como perfeito, na verdade não o é, porque é incapaz de reconhecer e proteger o amor verdadeiro. Os americanos vêem apenas aparências, e não se esforçam para aprofundar-se na essência das coisas, ainda mais quando se trata de estrangeiros. É a questão do preconceito e da ideologia de que o american way of life é o modelo ideal e por isso está num nível de proteção acima dos outros.

Bem-Amada (Beloved), filme do diretor Jonathan Demme (de Filadélfia e O Silêncio dos Inocentes), é, na minha opinião, o melhor exemplo dos três. Conta-nos a história de uma escrava que passa a ser assombrada pelo fantasma da filha, remetendo-nos ao mal da escravidão nos Estados Unidos do século passado. Sethe é a escrava, mãe de quatro filhos, que passou horrores numa fazenda chamada “Doce Lar”. Fugiu de lá para viver com a sogra e os filhos, aguardando o retorno do marido que nunca acontece. Ao ser encontrada pelos feitores, mata um de seus filhos e e por pouco não mata seus outros três, para que não sejam apanhados e venham passar o que ela passou como escrava — afinal, filhos de escravos são escravos. Existe exemplo melhor? Para muitos de nós o ato de matar o próprio filho é uma insanidade, uma barbaridade; para a personagem de Oprah Winfrey, muito passional, é amor e não outra coisa. É algo de que não há arrependimento, nem melancolia, pois o amor, sozinho, é capaz de transmitir uma gama de sentimentos e sensações que só quem ama pode saber como é. “Amai para entendê-las/pois só quem ama pode ter ouvido/ capaz de ouvir e escutar estrelas”. O fantasma da filha morta de Sethe reaparece anos depois, como uma moça com retardamento físico e mental, retrato do que lhe acontecera. E ainda assim sua mãe a aceita completamente, de braços abertos, não vendo nela qualquer defeito ou pudor. Ela a ama completamente, do jeito ou forma que ela se mostrar, ainda que de maneira sobrenatural.  É sua filha, ela mesma a matou, mas, por Deus, ela retornou. Nós percebemos então que o que Sethe havia feito (tentado matar os próprios filhos) fora um ato de amor, tamanho o amor que ela demonstra quando descobre que a moça é sua filha que retornara para o seu convívio, ainda que com as pesadas cicatrizes do que acontecera anos atrás. Mas a mãe não lhe vê qualquer defeito, como se eles fossem automaticamente ignorados, deixados de lado. O sistema escravista, os feitores de Sethe e as pessoas da cidade que a boicotam por ter matado a filha são absolutamente incapazes de reconhecer esse amor, conforme o filme nos mostra.

O título do filme, por tudo isso, é adequadíssimo. E tem mais: reforça a idéia de que uma história de amor somente pode ser trágica para os demais, porque para quem ama, o amor encerra todo o suficiente. E tem mais: o amor produz mais amor, porque cria uma ligação fortíssima entre duas pessoas.

Todos esses três filmes contém histórias sofridas, mas em O Destino o otimismo é contagiante e nos traz uma ótima sensação de leveza. Outra lição que podemos tirar da análise deles é que o amor pode ser perigoso, na medida em que dá infinita coragem e dedicação absoluta, inclusive para enfrentar os dententores do status quo. A relação entre quem ama e as demais pessoas tende a ser conflituosa, mas sempre existirão pessoas capazes de enxergar a beleza que existe em quem ama e, assim, poder ajudar. Nesses filmes são exemplos os seguidores de Averroès e a sua família, a amiga operária de Selma, interpretada por Catherine Deneuve, e, em Bem-Amada, sua filha Denver e a sogra Baby Sugs.

Todos os três filmes contam com belíssima fotografia e excelente elenco, feitos para tentar nos emergir nesse mundo, dominado por amor. A feitura de todo o filme tem de estar comprometida com o desinteresse, o que pode soar como contra-senso, mas na verdade o é apenas em termos. O desinteresse é justamente o fazer pelo fazer, gostar pelo gostar, enfim, o amar pelo amar — daí sua pureza. Disse que é um contra-senso em termos porque o comprometimento nos remete à espontaneidade, melhor dizendo, à honestidade, deixando com que o amor vá fluindo... E para que o amor possa ser bem retratado, precisa existir esse desapego com o lucro, ou com os Oscar da vida, ou com as superproduções e superlançamentos...
Quisemos demonstrar, no fim das contas, que os atos dos personagens desses filmes são atos de amor, e não de fanatismo, loucura ou desespero. O amor, inclusive, pode brotar das pessoas e coisas que menos esperamos. É a questão de termos sensibilidade para enxergar.

Esses três filmes comentados são, enfim, obras-primas. Mas temos tantos e tantos outros que mostram bem o sentimento amor, da maneira que tentei explicar. Um exemplo é A Menina e o Porquinho (Charlotte´s Web), desenho animado dos anos 70, da dupla William Hanna e Joseph Barbera. Assistá-lo serviria até com um teste para o leitor, para compará-lo com os outros filmes e com a conotação do amor dada neste texto. Outro filme é o recente Fale com Ela (Hable com Ella), do diretor espanhol Pedro Almodóvar, obra-prima na qual o amor mesmo não correspondido é capaz de feitos extraordinários e de, inclusive, gerar a partir dele uma nova ligação de amor. Pedro Almodóvar é refinado, sente as coisas e sabe passá-las como nenhum outro diretor.

Para encerrar, usaremos o discurso da personagem Baby Suggs, sogra da escrava Sethe, que é mais ou menos assim: “Sintam com o coração. Sigam o que vem dele. Não liguem para o que vocês vêem, para o que pegam, nem para o que sai do ventre de vocês. Usem o coração”. Isto é amor.


By Mathias Nelson Faria dos Reis, 2002.


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Conan - O Bárbaro
EUA, de 2011. De Marcos Nispel . Com: Jason Momoa e Ron Perlman


Conan, versão 2011 - O Desastre


Cotação: Ä (ruim)


Você assistiu aos episódios de “Hércules” e “Xena – A Princesa Guerreira”, que passavam na TV? O primeiro estrelado por Kevin Sorbo e o segundo por Lucy Lawless? Se sim, ao assistir “Conan – O Bárbaro”, talvez você note algumas semelhanças, tais como: cenários medievais parecidos, com tavernas cheias de guerreiros, bêbados e dançarinas estilizados; figurino formado por roupas de couro e pele... Adicione a essa programação trash – que até funciona na TV – muito sangue e violência, ritmo de videogame e bons efeitos especiais e você terá algo parecido com Conan, versão 2011.

Kevin Sorbo e Lucy Lawless são carismáticos, e em parte o sucesso de seus programas deve-se ao carisma deles e dos intérpretes de Iolaus e Gabrielle, seus melhores amigos, respectivamente. Os efeitos especiais, porém, são risíveis, conseqüência de um orçamento pequeno. Mas efeitos especiais são secundários ante bons atores, bons personagens e bons diálogos.

A nova versão de Conan fracassa em tudo. Os atores são péssimos e o roteiro, apesar de escrito por três pessoas, é uma ode aos clichês baratos dos filmes do gênero. Temos Conan, guerreiro truculento que só pensa em vingar-se da morte do pai; o vilão, que só pensa em dominar a todos, para isso precisando ressuscitar sua amada, queimada viva por bruxaria; a bela e angelical mocinha, que se revela boa combatente; o ladrão esperto, de inglês precário, escape para a comédia; o amigo do herói, a ele ligado por laços de honra. A direção é precária, de modo que as cenas de batalha são mal filmadas. Escorrem sangue, tripas, mas faltam imaginação e câmeras bem posicionadas. Tão ruim quanto é a direção de arte – figurino, maquiagem, etc. Até a cena “quente”, de sexo, não funciona, de tão ruins os ângulos capturados pela câmera. É pudicíssima, comparada com a violência de brincadeira do resto do filme. Assim me parece os Estados Unidos hoje: austero no sexo e palavreado, escatológico na violência.

O filme soa um tanto amadorístico, tanto quanto as séries de TV de que falamos acima; só que, para elas, isso constituía seu “charme”. Aqui, não, há várias gratuidades e charme nenhum.

Em 2011, os produtores e os diretores de filmes trabalham para um espectador pouco exigente, embrutecido e, na visão deles, menos inteligente. É como se qualquer coisa pudesse ser bem digerida pelo espectador, contanto que possua bons efeitos especiais alinhados a bom marketing. Conan, 2011, celebra a falta de criatividade e inteligência da Hollywood de sua época.

Enfim, o Conan, de 1982, de John Millius, mostrou a que veio e tinha algo a dizer. É cinema bem-feito, de qualidade, apesar dos efeitos especiais fracos. Têm cenas primorosas: a morte da mãe de Conan; Thulsa Doom e seus atos e falas pausadas, além de sua magia, como por exemplo a que transforma uma cobra em flecha; o ataque dos demônios que tentam tirar a vida de Conan. Com muito menos sangue e cenas de ação, Conan, de 1982, tem contraditoriamente mais ação que sua versão de 2011. Isso porque sua violência não ordinária e vulgar retém mais o interesse do espectador e faz com que várias cenas permaneçam em sua memória.

Quem formava o elenco em 1982? Arnold Schwarzenegger, James Earl Jones e Max Von Sidow, além de outros. Precisa dizer mais?

Ninguém do elenco de 2011 se destaca ou engrenará sua carreira a partir dessa versão, como em 1982 o filme alavancou a carreira de Scharzwarzenegger. A partir de “Conan, O Bárbado” e “Conan, o Destruidor”, ele faria mais tarde “O Exterminador do Futuro”, “Comando Para Matar”, “O Predador” e “O Vingador do Futuro”, consolidando-se como ator do primeiro time de Hollywood.

James Earl Jones e Max Von Sidow dispensam comentários, são lendas vivas do cinema. O veterano na versão de 2011 é Ron Perlman, que nunca se destacou como ator.

Não esqueçamos da trilha sonora do filme original, excelente, composta por Basil Poledouris.

Conan, de 1982, tem 129 minutos e um ritmo bem mais lento que os filmes de 25-30 anos depois. A versão 2011 é mais curta e seu ritmo tão descerebrado que não dá tempo de criarmos afeição ou antipatia com qualquer personagem. A todo momento mudam os cenários, surgem novas batalhas... mas sem criatividade e originalidade. Vêm uma nova batalha, então prepare-se: cabeças serão esmagadas, braços decepados, sangue, sangue, sangue...


Assistido em 03 de outubro de 2011, no Box Cinemas, São Luís-MA


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Um rapaz formado em Direito, estudante de História, que trabalha em banco e escreve livros de RPG".

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