Crítica de filme - A Cartomante
A
Cartomante. Brasil,
2004. De Wagner de Assis e Pablo Uranga. Com Deborah Secco, Luigi Baricelli,
Ilya São Paulo e Silvia Pfeifer.
Filme é tão ruim que provoca riso involuntário
“A
Cartomante” inspira-se numa obra de Machado de Assis, transposta para a modernidade.
No filme, Rita (Deborah Secco) está de casamento marcado com o médico Augusto
Vilela (Ilya São Paulo), até conhecer Camilo (Luigi Baricelli), amigo de
infância do médico. Rita e Camilo logo se apaixonam. Em dúvidas sobre o que
fazer, Rita se consulta com a psiquiatra Dra. Antônia (Silvia Pfeifer), ao
mesmo tempo em que segue os conselhos de uma cartomante.
“A
Cartomante” não é apenas um filme ruim, é MUITO ruim. Fica até difícil comentar
uma obra assim, tão ridícula. É mais fácil explicá-la citando exemplos. Então vamos
lá:
-
A direção do filme é amadora – apesar dele ter dois diretores. Eles não possuem
noção de plano, contraplano ou enquadramento, que são coisas básicas para
qualquer cineasta. Primeiro exemplo: em determinados momentos, um personagem
conversa de frente com outro. Filmando a face do que fala, vemos parte do braço
e ombro da pessoa com quem está dialogando. Muda o interlocutor, o plano
continua mal cortado, mostrando partes da roupa e braço, sem qualquer
elegância. Segundo exemplo: perto do fim, o espectador vê a linha do alto da
parede de uma sala torta... não porque ela não seja reta: não creio que a falha
fora do arquiteto ou do engenheiro. Isso se dá é porque o enquadramento está
torto, sem eira nem beira.
- A direção insiste em filmar
o trânsito carioca em velocidade superaumentada para ligar um ponto a outro do
filme e dar uma idéia do transcorrer do tempo. Isso ocorre umas cinco ou seis
vezes. Quer dizer, usou-se um recurso que já é batido várias vezes, cansando o
que já é cansativo. Assista “Eu Vos Saúdo, Maria”, do mestre Godard, e perceba
como tal recurso em “A Cartomante” é utilizado sem eira nem beira.
-
Em certo momento, Rita e Camilo se vêem pela primeira vez, e, para reforçar a
idéia de “amor à primeira vista”, a câmera foca nos olhos dos dois. Recurso um
tanto gasto, porém feito sem nenhuma classe, senso ou desembaraço. Já os
momentos pretensamente tensos soam ridículos, sem “timing”, ou seja, sem eira
nem beira.
-
A direção de atores é péssima. A única atriz que parece levar o filme a sério é
Déborah Secco, a menos ruim do elenco. Luigi Baricelli é fraco, mas até que se
esforça. Ilya São Paulo e Silvia Pfeifer estão constrangedores. Mais
constrangedora é a participação de Giovana Antonelli, que faz ponta como uma
drogada neurótica. Sua atuação é piorada pela falta de noção da direção, que
faz cortes rápidos sem eira nem beira.
-
A história é tosca, desinteressante e furada. Qual o motivo, por exemplo, de
Rita e Camilo terem medo de assumir sua paixão? O que impede Rita de terminar o
noivado com o Dr. Vilela? Nada. A história de Machado de Assis se passava no
século XIX, época em que os costumes eram muito diferentes, muito
conservadores. E romper um noivado para namorar o amigo do noivo podia
resultar, de fato, num escândalo. Mas aqui resulta em algo sem eira nem beira.
- A Trilha sonora é desconexa/disléxica. Ora toca kid abelha, ora música de boate,
ora partirmos para a música clássica “Canon”, de Pachelbel, que já foi bem
utilizada em “Gente Como a Gente”, mas aqui aparece sem eira nem beira.
Enfim,
é ver pra crer. Assistindo, você verá o quanto “A Cartomante” é ruim de dar
pena, pois uma imagem do filme valerá mais que mil palavras minhas.
Acho,
ainda, que assistindo você vai encontrar vários defeitos que eu não apontei. Eu
paro o texto por aqui, porque é cansativo. Assistir ao filme não o foi, foi até
divertido. No fim das contas, seus realizadores terminaram por produzir uma
comédia involuntária.
Cotação:
Ä (ruim)
1 comentários
Concordo. Fazia tempo que não via uma coisa tão ruim. Arrebentaram com um conto sensacional de um dos maiores escritores de nosso país. Lamentável.
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