Crítica de filme - Guantanamera



Guantanamera (Idem). Alemanha/Cuba/Espanha, 1995. De Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tábio. Com Carlos Cruz, Mirtha Ibarra e Jorge Perugorría.


As dificuldades para enterrar um morto na burocracia cubana são o mote do filme


Tomás Gutierrés Alea (1928-1996) dirigiu "Memórias do Subdesenvolvimento", em 1968, e é de longe o grande diretor cubano. Quase trinta anos depois, lançou "Morango & Chocolate", indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e, logo depois, este "Guantanamera". Todos os três filmes estão intimamente relacionados com o país e o comunismo lá implantado por Fidel Castro. Para entender a filmografia do diretor, portanto, é preciso se familiarizar com o país de Fidel.

Em "Guantanamera", uma senhora morre e seu corpo deve ser transportado de leste a oeste do país, mas o traslado passa por uma série de percalços. Carlos Cruz interpreta Adolfo, burocrata agente funerário do governo, e Mirtha Ibarra é Georgina, sua esposa, sobrinha da falecida. Jorge Perugorría é Mariano, um caminhoneiro conquistador, oposto ao gay que fez em "Morango & Chocolate".

O cortejo fúnebre percorre o país e ressalta as peculiaridades de um regime que não tem nada a ver com sua população. Os prédios em estado decrépito, a escassez de comida, os carros velhos e a burocracia governamental emperradora contrastam com um povo alegre e vivaz. Uma característica do diretor Gutierréz, mantida em sua parceria com Juan Carlos Tábio, é dedicar-se a personagens e, a partir deles, retratar a situação cubana. E assim Gutiérrez questiona: o regime comunista ainda é bom para o país, para o povo cubano?

A resposta é clara: não. Situações quase surreais, dignas de Salvador Dalí e Luís Buñuel, são provocadas por um regime avesso à realidade. A população cubana está envelhecida, cansada, mas não deixa de aproveitar o que a vida tem de bom. Um conto dentro do filme diz que em determinado lugar, as pessoas não morriam, e aquelas que iam nascendo ficavam presas aos desmandos dos mais velhos, de milhares de anos. Até que Deus atendeu ao pedido dos mais jovens e mandou um dilúvio, que matou os mais velhos e acabou com a imortalidade, deixando a terra para as crianças e jovens. Trata-se de um recado direto a Fidel que, à altura do filme, já estava há 40 anos no poder. Em outras palavras, é tempo de "El Comandante" vestir o pijama e passar o comando do país às novas gerações...

Adolfo representa o típico comunista desumano da ilha, contraposto à sua esposa, de visão mais ampla. Os mais velhos representam o amor à vida e o saudosismo de uma ilha que, apesar de tudo, é amada pelos habitantes.

O filme é intercalado pela clássica canção "Guantanamera", que, à medida que toca, nos conta um pouco mais sobre os personagens. Não poderia haver trilha sonora melhor.

A cena final é perfeita, perfazendo uma alegoria: a chuva e a renovação que ela traz.


Cotação: êêêê (excelente)


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1 comentários

  1. E AGORA COM O CORONA/PANDEMIA ONDE CUBA DE FIDEL ALÉM DE SER UM DOS PAÍSES MAIS EFICIENTES NO COMBATA A PANDEMIA ENVIA SOCORRO/MÉDICOS A VÁRIOS PAÍSES????....QUE PENSA O SR. AUTOR DO SISTEMA CUBANO HOJE?????......QUANTA FALTA DE VERDADE NO COMENTARIO CRÍTICO DO SR MATHIAS!, SE DANDO O DIREITO DE DEFINIR A SITUACÃO DE CUBA COMO PRECÁRIA DECADENTE OBSOLETA!.....COM CERTEZA DEVE SER SEU SOBRE NOME:REIS QUE TRÁS A ARROGANCIA PREPOTENTE PRESUNCOSA PR'PRIA DA MONARQUIA E DOS CAPITALI$$$TAS ONDE SEPRE IMPERA O MEDO DO FRATERNO!!!....O ÓDIO AOJUSTO!!!.....SALVE A REVOLUCÃO DE FIDEL E DO POVO CUBANO SEMPRE!!!

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