Crítica de filme - O SEXTO DIA


O 6º dia (The 6th Day)


EUA, 2000. Direção: Roger Spottiswoode. Com Arnold Schwarzenegger. 124 min. Pai de família chega em casa e encontra um clone em seu lugar.


Cotação: êê (Bom)

“O 6º Dia” tem um começo bastante promissor. Em ordem cronológica, o início do filme aborda a evolução da clonagem, indo desde a ovelha Dolly e a decifração do código genético humano (acontecimentos reais), até premissas futuras e perfeitamente plausíveis, como a clonagem de animais de estimação e a polêmica em torno da permissão ou proibição da clonagem de seres humanos, sem ainda se esquecer de protestos de grupos contra a prática e  da perspectiva religiosa (“no 6º dia, Deus criou o homem à sua imagem e semelhança”).

Mas logo se percebe que toda essa, digamos, “seriedade”, vai ficando em segundo plano com o passar do filme. Direção e roteiro parecem se preocupar mais em mostrar os avanços tecnológicos de um futuro próximo que o próprio instituto da clonagem e algumas de suas implicações. Antes de mais nada, este é um filme de ação: Hollywood não perde tempo em captar recentes acontecimentos para transformá-los em caríssimos shows de efeitos especiais e cachês milionários, ocorrendo em seus executivos que cinema é apenas mais um nicho para se ganhar dinheiro, desta vez voltado ao entretenimento.

Arnold Schwarzenegger é Adam Gibson, pai de família à moda antiga (diga-se, relutante em mudar sua concepção sobre o milagre da vida humana e o seu ciclo natural), que ganha a vida transportando turistas até áreas elevadas. Dividido entre permitir ou não que o animal de estimação da filha seja clonado por uma empresa chamada “RePet”, Adam pega mais um dia de batente, no dia de seu aniversário. Ao voltar para casa, encontra um clone em seu lugar e passa a ser alvo de assassinos.

Por trás desse susto na vida de Adam está uma Megacorporação voltada ao mercado da clonagem de animais, órgãos e, clandestinamente, de seres humanos, controlada por Michael Drucker (Tony Goldwin),  que tem no Dr. Graham Weir (Robert Duvall) um de seus sócios. Robert Duvall é, por sinal, o único destaque do elenco, em contraste com Schwarzenegger, Goldwin e o elenco coadjuvante, que são fracos. O drama vivido por seu personagem e sua esposa é o único que consegue transmitir ao público uma  sensação do impacto da clonagem sobre o interior das pessoas. Mas isso se deve em graças às atuações do veterano e da atriz que o acompanha.

O roteiro tem furos absurdos, e a direção é irregular. Adam Gibson, por exemplo, que tanto defende o valor da vida ao ser contra a clonagem de animais num Estados Unidos que majoritariamente a defende, mata sem um mínimo de ressentimento ou mesmo consciência do que é fazer isso; os figurantes ajudantes do vilão desaparecem de uma hora para outra (na verdade, quando ele mais deles precisa), para em seguida reaparecerem inutilmente; o encontro entre Adam Gibson e seu clone é de uma superficialidade assombrosa. As cenas de ação nem são muito bem dirigidas assim.

No fim das contas, Prevalecem o maniqueísta e o medíocre, originando mais um filme como tantos outros lançados anualmente nos Estados Unidos. O final, que opta por uma solução fácil, resume o que o filme foi. O início, o que ele poderia ter sido. Mas, como este é um filme estrelado por Schwarzenegger e dirigido por Spottswoode, em uma época em que quem dita as coisas no mundo é o Tio Sam, a conclusão que tiramos é que outra coisa não seria prudente esperar.


Assistido em 07/01/2001, no Cinema Colossal.

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