Crítica de filme - BILLY ELLIOT

Billy Elliot (Billy Elliot)




Inglaterra, 2000. Direção: Stephen Daldry. Com Jamie Bell e Julie Walters. 110 min. Garoto de 11 anos filho de operário decide tornar-se bailarino.



Cotação: êêê (ótimo)

Certos filmes têm como base  um personagem central dotado de um dom tão forte que, mesmo vivendo em um ambiente desfavorável ao desenvolvimento desse dom, consegue superar as dificuldades e, enfim, brilhar. São esses personagens como uma pérola dentro de uma ostra, perdida no meio do oceano. Quando um filme com tema assim é bem conduzido e, mais importante ainda, quando o ator cai como uma luva para o personagem, ele tem tudo para tornar-se uma “pérola cinematográfica” e destacar-se da amorfa massa de  filmes.


“Destacar-se da massa” ganha ainda mais destaque naqueles filmes cujos persongens centrais vivem nos ambientes massificados da atualidade, em que todo um conjunto de pessoas é visto como um único bloco de estudo para a maximização da audiência ou oferecimento deste ou daquele produto.


“Billy Elliot” é um desses filmes: conta-nos a história do personagem-título (interpretado por Jamie Bell), um garoto de 11 anos órfão de mãe que, tendo o pai e o irmão mais velho trabalhando como carvoeiros e vivendo com eles e mais a avó senil em um bairro operário da Inglaterra, descobre ter atração pelo balé. As circunstâncias indicavam que Billy seria mais um carvoeiro bruto e alienado; porém, ele decide aprender a dançar e sonha tornar-se bailarino. Daí vem a “jóia”: em um rincão pobre e machista, um garoto passa a cultivar o amor pelo balé. É assim que se dá o primeiro contato de Billy com o balé: ele e os garotos da região estão lutando boxe, em uma metade de um ginásio; as garotas, na outra metade, estão tendo aulas de balé com a Sra. Wilkinson (a atriz Julie Walters, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante). Logo Billy passa a prestar mais atenção na dança que na luta e torna-se aluno da Sra. Wilkinson. Ela percebe no garoto o que nunca havia percebido em nenhum aluno seu e sugere que ele faça um teste na Escola Nacional de Balé da Inglaterra.


Mas a aproximação de Billy com o balé não será nem um pouco fácil. Ele mesmo, no início, reluta, com medo da reação das pessoas do bairro e do seu pai e irmão, já que todos vêem o balé como apenas uma atividade para homossexuais.


Pôde-se perceber que interpretar Billy não é tarefa fácil. Mas Jamie Bell dá um show. Seu Billy Elliot não deixa de nos convencer em nenhum momento, alternando alegria, medo, desespero e descobertas, e também horas em que exercita seu dom e horas em que é apenas mais um garoto de família pobre.


Ficam também elogios à trilha sonora do filme e à combinação de um bom roteiro com uma direção inteligente. O roteiro, principalmente pela honestidade, espontaneidade e intimidade (às vezes desagradável, diga-se) com que aborda os assuntos, e a direção pela beleza dos enquadramentos, da fotografia e das imagens e por criar no espectador a partir daquela intimidade uma torcida para que as coisa dêem certo para Billy e os demais personagens.


Enfim, vemos que Billy fica em uma situação muito complicada para alguém tão jovem. Qualquer decisão a ser tomada há de ser traumatizante, porque ela está entre renegar a vida que seu pai e irmão lhe conseguem dar com tanto esforço e entre arriscar o que não é adequado para um menino de sua classe social, isto é, arriscar o que “não é para o seu bico”. Por maior que seja o dom de alguém, ele não deve ser sufocado enquanto ainda se é jovem. É essa a mensagem principal do filme: a fase até o início da juventude é uma época de insegurança e dependência, porque por mais que uma criança lute, ela precisa de apoio. É só com apoio e ajuda que aquela avezinha há pouco saída do ovo é capaz de tornar-se um imponente pavão. O dom é verdadeiro e o pavão, meus caros, podem acreditar, vence.



Assistido em 31/05/2001, no Cinema Praia Grande.

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