DOIS FILMES PARA O DIA DOS NAMORADOS


Dois filmes para o dia dos namorados


Pensando em dia dos namorados e pensando em filmes, acredito que a maioria das pessoas recorde uma comédia romântica (como “O Casamento do Meu Melhor Amigo” ou “Um Lugar Chamado Notting Hill”), ou um romance açucarado, tipo “P.S.: Eu Te Amo” e “Diário de Uma Paixão”. Aquelas pessoas um pouco mais velhas podem lembrar-se de “Love Story” e “Quando um Homem Ama Uma Mulher”. Ou então, talvez alguém lembre clássicos do teatro e da literatura transpostos para o cinema, como “Romeu e Julieta” e “Tristão e Isolda”. Uma pessoa com gosto mais moderno talvez cite “O Fabuloso Destino de Amelie Poulan” como marcante para a data. Neste texto, não desmereço quem tenha primeiro lembrado algum dos filmes acima ou similares. Minha intenção é mostrar, através de dois outros filmes, visões alternativas  – e lindas, também – para se assistir nessa época, com seu par. E, talvez, refletir um pouco sobre coisas como namoro, amor, paixão, sexo, vida, etc.

Mas os dois filmes sobre os quais falarei não são tão desconhecidos. São eles “Os Guarda-chuvas do Amor” e “Um Homem, Uma Mulher”. Ambos são franceses, receberam a Palma de Ouro de melhor filme no Festival de Cannes, e o segundo ainda ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e roteiro original. “Guarda-chuvas...” recebeu 4 indicações ao Oscar, entre elas a de melhor filme estrangeiro e melhor roteiro.

Mas, por que tais filmes?

“Os Guarda-chuvas do Amor” conta a história de uma moça de 17 anos (Catherine Deneuve, em seu primeiro grande papel no cinema), que trabalha com a mãe numa loja que vende guarda-chuvas, e um jovem mecânico de 20 anos (Nino Castelnuovo), na cidade de Cherbourg, França, em fins dos anos 50. Os dois são namorados e estão apaixonados, mas suas vidas não são tão fáceis assim.

Já “Um Homem, Uma Mulher” conta a aproximação, como diz o título, entre um homem e uma mulher, cada qual na casa dos 30/35 anos. Ele é piloto de corridas e ela trabalha com cinema. Cada um tem um filho pequeno.

Os plots são simples assim. Não é preciso contar mais e antecipar o que acontece. Isso estragaria a sessão.

Aí vem a resposta àquela pergunta: “por que esses dois filmes, e não outros, já que seus plots são tão banais?” O interessante não é o ponto de partida, e sim a maneira como cada filme é conduzido. Se a princípio tais filmes parecem não ter nada demais, aos assistí-los você verá cada um como uma obra única, inimitável, inigualável. Duas obras-primas. De um princípio “lugar-comum”, clichê, os diretores atingiram resultado ímpar, trabalhando técnicas e a própria linguagem cinematográfica.

“Os Guarda-chuvas do Amor” tem todos os seus diálogos cantados. Todos. Não é à-toa que o filme recebeu o Oscar na categoria de melhor canção original, na música tema composta por Michel Legrand. O diretor e roteirista Jacques Demy ainda dá ao filme um lindo colorido na fotografia, cenários e figurinos. Seu visual segue o ritmo das estações do ano. Nunca perde o bom gosto nem a doçura mas não fica brega ou piegas.

“Um Homem, Uma Mulher”, do diretor Claude Lelouch, também faz uso de ótimas fotografia e trilha sonora para contar sua história. Aqui, ao contrário de jovens, temos dois adultos na casa dos 30 anos, cada um com um filho e um histórico familar. São interpretados por Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée.

No desenrolar dos filmes, é interessante vermos como um relacionamento não caminha em linha reta, pré-determinada, como obra do destino. Desenvolve-se, sim, a partir de escolhas e decisões que cada um toma frente às circunstâncias da vida. Aí reside parte da beleza dos filmes e faz com que, ao darem grande entretenimento ao casal, também lhe dão oportunidade de vivenciar um “fazer cinema” diferente, doce e terno. Além disso, com os casais dos filmes aquele casal que lhe assiste pode aprender um tanto de coisas para seu próprio relacionamento. Uma delas é de que o tempo não volta.

Não há idealizações nesses filmes. Em ambos há questões pessoais, familiares e profissionais envolvidas. Isso os aproxima muito da vida real. De forma belissima e emocionante.

Temos que ressaltar a beleza do elenco. Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée são lindos assim como Catherine Deneuve e o italiano Nino Castelnuovo.

A música de “Um Homem, Uma Mulher” é de Francis Lai (que trabalharia posteriormente com Michel Legrand em “Retratos da Vida”) e inclui, na trilha sonora, músicas dos brasileiros Vinícius de Moraes e Baden Powell.


Cotação: Um Homem, Uma Mulher êêêê (excelente)
                 Os Guarda-Chuvas do Amor êêêê (excelente)


Os Guarda-Chuvas do Amor (Les Parapluies de Cherbourg). França, 1964. De Jacques Demy. Com Catherine Deneuve e Nino Castelnuovo.

Um Homem, Uma Mulher (A Man and a Woman). França, 1966. De Claude Lelouch. Com Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant.



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