Crítica de Filme - O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN
O Segredo de Brokeback Mountain (Brokebak Mountain)
EUA,
2005. De Ang Lee. Com Heath Ledger e Jake Gyllenhaal. No Wyoming, EUA, dois
cowboys se apaixonam nos anos 60.
Cotação:
êêêê
(excelente)
TODOS
TEMOS NOSSA BROKEBACK MOUNTAIN
Com
oito indicações ao OSCAR, incluindo melhor filme, diretor (Ang Lee) e ator
(Heath Ledger), “O Segredo de Brokeback Mountain” é o mais cotado a ganhar o
prêmio principal da academia. Tantas indicações demonstram não só a força do
filme, mas principalmente a aceitação de um filme de amor gay cujos valores não
se restringem a um público específico, e sim a qualquer pessoa que aprecie uma
história bem filmada. As oito indicações, sem dúvida, resultam da qualidade do
filme, mas sinalizam também uma saudável diminuição do preconceito contra homossexuais.
Em
1963, no Estado do Wyoming, os cowboys Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack
Twist (Jake Gyllenhaal) são contratatos para tomar conta de um rebanho de
ovelhas nas montanhas Brokeback, durante a estação. No isolamento, surge entre os dois um companheirismo e amizade que
logo se torna uma paixão arrebatadora – por iniciativa de Jack, porque Ennis é
o típico cowboy americano, sério e caladão, inclusive de casamento marcado.
O
filme de Ang Lee (“O Banquete de Casamento”, “Comer, Beber, Viver”, “Hulk” e “O
Tigre e o Dragão”) trata antes de tudo da renúncia, consubstanciada no amor de
dois homens que, por força das circunstâncias – medo, preconceito,
não-aceitação – desenvolve-se apenas como uma paixão arrebatadora. A renúncia
é, por sinal, um tema muito caro ao cinema japonês. Por isso convém assistir “Tabu”,
filme de Nagisa Oshima que retrata um relacionamento entre dois samurais. Mas
seria mesmo “Brokeback...” um “faroeste gay”, como tem sido dito? Comparando-o
com os filmes do gênero, a semelhança não se sustenta. “Brokeback...” começa em
1963, ano em que há muito já não existia o “far west”, fosse como retratação
histórica, fosse na retratação que Hollywood lhe deu. O que permaneceu,
passados tantos anos de desbravamento, foi uma sociedade machista cujo
bucolismo fora substituído, se antes pela corrida do ouro, agora por uma
corrida por bons salários, ascenção social, boa aparência – típicos valores
norte-americanos.
De
fato, é num ambiente não propício que se desenvolve o amor entre Ennis e Jack.
No filme, a palavra “gay” soa proibida, tanto que só é dita uma única vez, ficando
subtendida ou escondida, mas presente, nos demais momentos, como se fosse
proibido mencioná-la, inclusive pelos personagens centrais. Aí reside a questão
da renúncia e da auto-aceitação, do que não pode ser dito mas está lá. E como
se sentíssemos o cheiro, os toques na pele, mas as imagens do mundo de fora
estão lá, tentando mostrar outra coisa: Ennis e Jack, cada um, casado e pai de
família. Ainda que o rústico oeste seja um lugar bem viril, é fácil percebermos
quando o que está implícito se torna mais explícito que este mesmo – no caso, o
amor entre dois homens.
Assim,
Brokeback é um filme que trata de amor, e não de paixão. É do gostar pelo
gostar, desinteressado, a que o filme nos remete. Não há entre Dennis e Jack
qualquer interesse que não o de estar junto, curtir um ao outro. As montanhas
Brokeback, onde os amantes se encontram, funcionam como refúgio bucólico e lar.
Valorizados ainda mais pela belíssima fotografia do filme.
Assistido
em 07 de fevereiro de 2006.
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