Críticas-pílula: Distrito 9


Distrito 9 (District 9). EUA/Nova Zelândia, 2009. De Neill Blomkamp. Com Sharlto Copley.

Filme constrói e desconstrói mitos da ficção científica e do politicamente correto

O filme produzido por Peter Jackson e Carolynne Cunningham começa com disparates. Sua história tem início quando uma enorme nave alienígena surge sobre a cidade sul-africana de Johannesburgo. E nós – e o filme – perguntamos: por que não sobre Nova Iorque, Londres, ou Moscou? Por que numa área periférica do globo?
Mais: durante dois meses, a nave fica parada no céu da cidade. Nada acontece. Quando forças armadas resolvem então invadir a espaçonave se deparam com mais de 1 milhão de extra-terrestres desorientados e desnutridos. Parece que não vieram para nos atacar; estão mais para refugiados.
Os alienígenas não têm como voltar para casa e são, então, asilados na cidade, numa área que logo se torna um imenso gueto ou favela.
Dessa maneira, a ficção científica começa desconstruindo os mitos e clichês da própria ficção científica.
Narrado em tom semi-documental, “Distrito 9” também constrói e desconstrói o politicamente correto. Para tanto, vou citar dois exemplos: 1) constrói na medida em que os extra-terrestres, chamados pejorativamente de “camarões”, serão despejados do gueto de Johannesburgo para uma área mais isolada – mas tudo dentro da “legalidade” e "civilidade", já que uma multinacional se encarrega da legalidade da ação, notificando cada indivíduo de que tem 24 horas até ser despejado; 2) desconstrói na medida em que os alienígenas são proibidos de se reproduzir. Para tanto, se a fiscalização descobre ovos seus, queima-os – o barulho gerado daquilo que é um feto em chamas é igualzinho a “estalos de pipoca” (diz o personagem Wikus). Assim se pratica um aborto.
Grandes corporações, armas, facções nigerianas no gueto e um improvável herói surgem na trama, que deixa a desejar apenas quando flerta com o clichê. Mas o final do filme é interessante, arma muitas possibilidades e deixa em aberto uma continuação. A ficar de olhos abertos no diretor e co-autor Neill Blomkamp.

Observação: “Distrito 9” foi um dos 10 indicados ao Oscar de Melhor Filme, em 2010.

Cotação: êêê (ótimo)

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