Críticas-pílula: O Discreto Charme da Burguesia


O Discreto Charme da Burguesia (Le Charme Discret de la Bourgeoisie). Espanha/França/Itália, 1972. Direção: Luís Buñuel. Com Fernando Rey, Julien Bertheau e Stéphane Audran.

Três características são fundamentais na obra do diretor espanhol Luís Buñuel: a crítica à burguesia e ao clero e o surrealismo. Em “O Discreto...” temos esses três elementos bem delineados. Na história, três casais – burgueses – tentam jantar juntos, mas nunca conseguem pelos mais diversos contratempos.
O diretor prega muitas peças no espectador, quando mistura o que é real com os sonhos e devaneios dos personagens. Quando você pensa que determinada cena do filme é real, na verdade ela não passa de um sonho; ao mesmo tempo, algumas situações reais são tão absurdas que só podem ter saído de um sonho. Onde já se viu, por exemplo, você ir jantar num restaurante e descobrir que, próximo à mesa, o finado proprietário do estabelecimento está sendo velado?
Em outros momentos o trote do diretor está em tentar matar o espectador de curiosidade. Exemplo: numa cena, uma das personagens, antes de se deitar com seu amante, pede para que ele apague a luz, para que não veja seus problemas de pele pois, se os visse, correria apavorado. O diretor só nos dá essa informação. Ficamos sem saber qual o problema dermatológico da personagem e, pior ainda, não conseguimos ver como está sua pele. Claro, sob a pele da madame, um delicado vestido e luvas, e a informação de que as suas mãos já estão curadas. Mas só. Outro exemplo ocorre quando os personagens dizem algo importante, mas o som do trânsito ou de um avião faz com que não possamos ouví-los.
O título da obra é bem apropriado. A burguesia, alvo favorito do cineasta, tem seus representantes postos em situações ridículas, evidenciando a hipocrisia e as sutilezas do mundo burguês. São muitas as cenas impagáveis. O elenco é excelente e captou o espírito crítico com naturalidade. Uma ótima e refinada comédia, premiada com o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Cotação: êêêê (excelente)

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1 comentários

  1. Mathias, te conhecer está sendo uma experiência fantástica e ímpar em minha vida. Além de tu seres uma pessoa agradabilíssima, ainda é apaixonado por cinema, que nem eu. Eu ainda não havia conhecido ninguém aqui em São Luis que compartilhasse o mesmo gosto pelos filmes de arte (apesar de saber que eu ainda não conheço tanto quanto você).
    A troca de informações sobre a sétima arte tem sido ótima, a cada novo encontro nosso eu volto pra casa mais enriquecido de informações.
    Assistir contigo ao "O discreto charme da burguesia" foi mais um desses momentos fascinantes. O filme é de uma beleza rara. A princípio fiquei com o pé atrás em termos de estética, pois tive a impressão de estar vendo uma novela mexicana, mas à medida que o filme vai sendo desenvolvido, começamos a entender as opções do diretor pelas imagens, planos, fotografia...
    Buñuel fez ótimas escolhas para trabalhar a ironia no filme, como tu havias me dito, o próprio nome é uma, pois de discreto e charmoso os burgueses desta obra não tem nada, rsrs. O filme foi me conquistando a cada nova cena e quando me dei conta já estava em catarse.
    Muito obrigado por me apresenta-lo!!! Já estou ansioso pela próxima sessão!!!

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