Dois filmes italianos e o Vaticano


Dois filmes italianos e o Vaticano: “Giordano Bruno” e “Habemus Papam”


Em tempos de mudança de papado, assisti a dois filmes italianos que tem a Igreja Católica como ponto central. São eles “Giordano Bruno”, de Giuliano Montaldo, de 1973, e “Habemus Papam”, de Nanni Moretti, de 2011.

Quase 40 anos separam esses dois filmes. Porém, mais que isso, suas histórias se passam em contextos bem afastados: o primeiro se passa no século XVI e o segundo nos dias atuais.

“Giordano Bruno” narra a vida do filósofo e astrônomo italiano perseguido pela inquisição católica por suas ideias, como de que a Terra gira ao redor do sol – e não o contrário – e de que Deus está presente em toda a matéria do Universo. O filme inicia no seu retorno a Veneza depois de vários anos e segue sua deportação para Roma, onde seria julgado e condenado por heresia contra a Igreja. O conteúdo do filme é nitidamente político: contestador até o fim. Tanto que, ao receber sua sentença, Giordano diz aos inquisidores: “vocês têm mais medo que eu”.

Destacam-se a interpretação do ator Gian Maria Volonté, a fotografia e a trilha sonora do mestre Ennio Morricone.

“Habemus Papam” começa logo após a morte do pontífice, quando então ocorre o conclave para eleger quem será o novo Papa. O Cardeal Melville (Michel Picolli) é eleito. Entretanto, ele sofre um bloqueio psicológico momentos antes de se apresentar à multidão: acha-se incapaz de assumir tamanha responsabilidade.

Em vistas da situação inusitada, um psicanalista (o próprio diretor Nanni Moretti) é chamado às pressas para tratar o pontífice.

Na época de Giordano Bruno (1548-1600) a Igreja Católica dispunha de enorme poder e influência, apesar de pouco antes ter ocorrido o cisma protestante promovido por Lutero. O filme de Giuliano Montaldo é político, histórico, crítico com a Igreja e com todos aqueles que detém o poder, seja no século XVI, seja nos séculos XX/XXI. A cúpula da Igreja é vista como algo nebuloso – realçado pela fotografia através de jogos de luz e sombras – e palco de intrigas e ardis. Cabe à igreja a manutenção do “status quo”, em oposição ao revolucionário Bruno.

Já Nanni Moretti fez uma comédia, o que pressupõe coisa mais leve. A Igreja Católica mudou depois de tanto tempo; censura, processos inquisitórios, torturas e mortes na fogueira ficaram num passado distante. O diretor mostra o Papa e os cardeais como pessoas comuns, sem aquela aura divina e intocável que imperava no século XVI. Eles são apenas religiosos simpáticos que, nas horas vagas, montam quebra-cabeças, jogam cartas e até se arriscam no vôlei. Uma visão um tanto ingênua – acharão alguns.

Cotação:

Giordano Bruno  êêê (ótimo)
Habemus Papam  êê (bom)

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1 comentários

  1. Em tempo de escolha de novo papa...deve ser uma boa escolha para que possamos refletir até que ponto a religião pode influenciar em nossas vidas.

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