Três Grandes Filmes - Parte I - Os Sete Samurais




Os "Três Grandes" filmes


Apesar de poder criar uma lista com 10, 20 ou mais dos melhores filmes, sempre ficarão dúvidas, qualquer que seja a lista. Seja uma lista por gênero — terror, musical, drama — por país, por década, etc., seja uma lista genérica mesmo, sem cortes. Haverá injustiças e desfalques, como filmes que lá estarão, mas não deveriam; e filmes que deveriam constar, mas não constarão. Haverá filmes que ficarão de fora pelo simples fato de que eu nunca os assisti! Enfim, tudo isso para concluir: quando preparamos listas de filmes — ou novelas, ou livros, ou games, enfim — existem todas essas circunstâncias envolvidas, que vão muito além do gosto pessoal.

Mas tenho comigo três filmes que são meus "bests". Meus preferidos. Meus preciosos. Já faz um razoável tempo os considero como tais. São "Os Três Grandes", embora não sejam "grandes" no sentido de muito conhecidos ou populares. Não são arrasa-quarteirão. Longe de serem universalmente conhecidos, só  o são dentro de círculos mais fechados de espectadores. Ainda assim, muitas pessoas desses círculos que os conheçam poderão só conhecê-los por "ouvir falar". Nesse caso, ainda que certa pessoa tenha referências boas dessas obras, parou por aí, isto é, nunca viu. Ouviu falar, imagina que sejam bons, acredita sinceramente que devam ser bons filmes, mas... nunca assistiu. Soube pelos outros, através de amigos, pessoas de confiança, mas não conferiu a qualidade assistindo, para daí emitir uma opinião.

Eu mesmo sou exemplo de gente que muito fica só na referência, no "ouvi dizer". Nunca assisti certos filmes obrigatórios, como por exemplo "...E o Vento Levou", "Cidadão Kane" e "Ben Hur", para ficarmos nos clássicos norte-americanos. De filmes mais recentes, "eu não sei, nunca vi, só ouço falar" das qualidades de "O Poderoso Chefão", "Um Estranho no Ninho" e "Um Sonho de Liberdade", entre tantos.

Enfim, poderia haver outros filmes entre os "Três Grandes". Po-de-ria. Daí você pode questionar: "nossa, há tantos filmes melhores que esses que ele escolheu! Por que será que 'Cantando na Chuva' não está na lista, já que Mathias gosta tanto de musicais?". Bom, respondendo abstratamente, pode ser porque eu não vi tantos filmes, vi só uma pequena quantidade, e é a partir dessa pequena base que posso comentar.

Parando por aí, vamos à primeira parte, que fala do primeiro dos "Três Grandes" — lembrando que necessariamente não estão em ordem de grandeza. O primeiro é "Os Sete Samurais".


I - OS SETE SAMURAIS (Sichinin no Samurai). Japão, 1954. De Akira Kurosawa. Com Takashi Shimura, Yoshio Kosugi, Kamatari Fujiwara, Keiko Tsushima e Toshirô Mifune. 208 min.

Gênero:
Épico
Prêmios:
Leão de Ouro em Veneza; segundo lugar como melhor filme em língua estrangeira dos críticos de Nova Iorque (NYFCC); indicado ao OSCAR, em 1957, de melhor direção de arte em preto-e-branco e melhor figurino em preto-e-branco.
Posição no IMDB:
19º, nota 8,7, com 223.761 votos (até 28/04/2016)
Por que é um dos grandes?
Considero "Os Sete Samurais" um filme perfeito. Fotografia, elenco, direção, roteiro e ritmo impecáveis. Um épico que trata tão bem de temas bem variados. Vai de combates a cenas intimistas de forma coesa. Em outras palavras, é um filme profundo, que mistura ação com profundos sentimentos humanos. O tom é sério, mas as cenas engraçadas não deixam o filme pesado. Ele não tem um caráter denunciativo, de cunho moral. Os muito personagens são carismáticos e cativantes, bem delineados. Trilha sonora, por fim, perfeita.

O sucesso de "Os Sete Samurais" aumentou o reconhecimento do cinema japonês no Ocidente e tornou Akira Kurosawa (1910-1998) o mais conhecido diretor japonês, além de elevá-lo ao primeiro time de cineastas, junto com Yasujiro Ozu e Kenji Mizoguchi. A eles juntaram-se, talvez e posteriormente, Masaki Kobayashi e Hayao Miyazaki.

"Os Sete Samurais" gerou, em 1960, uma releitura americana, estilo faroeste, chamada "Sete Homens e um Destino" (The Magnificent Seven), dirigida por John Sturges, com Yul Brynner, Eli Wallach e Steve McQueen no elenco.

Vamos à estória: no Japão feudal, camponeses cuja aldeia foi saqueada por bandidos recorrem a velho samurai para pedir ajuda, implorando proteção para quando os bandidos voltarem. Porém, pobres, não podem oferecer como pagamento mais que comida.

O Japão feudal lembra em vários aspectos o continente europeu feudal. Mas na realidade japonesa, separada por milhares de quilômetros e por uma cultura milenar, havia os xogunatos e os samurais, inexistentes no ocidente.

Se no ocidente primavam relações de vassalagem e servidão, no Japão a situação, apesar de comparável, era diferente, como dito. Os samurais, com quem podemos grosseiramente comparar com os cavaleiros medievais europeus, tinham um código de honra diferente daqueles.

Assim, por mais que a base histórica tenha diferenças comparada à ocidental, ambas possuem valores em comum, parecidos, quase universais. Companheirismo, sacrifício, amor, desapego, amizade, bravura, bravata, covardia, desespero, estão todos no filme. A direção precisa e desraigada de Akira Kurosawa confere alternância a tudo isso, entre momentos idílicos e impactantes, descontraídos e tensos. Seus 208 minutos dividem-se em cenas de batalhas, cenas que relatam o cotidiano, cenas intimistas. Mas nunca sem perder de vista o todo, o conjunto do filme, que é o mais importante e uma qualidade a se ressaltar. O ritmo é tão bom e fluido que as mais de três horas voam.

Assim é a sociedade. Camponeses, samurais (e bandidos) não são tão diferentes um dos outros, exceto pelas crenças e valores que defendem. São todos humanos. E o filme trata magnificamente deles, abordando toda a complexidade da vida e da morte.

Um dos destaques é sem dúvida Toshirô Mifune, que faz o sétimo samurai, o mais descontraído e engraçado deles, e que, na verdade, não é bem um samurai. Seu personagem, chamado Kikuchyio, resume muito da complexidade do filme. E, também, o carinho e respeito que o espectador vai criando por cada um dos samurais. Eles são a alma do filme.

Assistam. Não percam.

Vamos a algumas cenas do filme:





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