Três Grandes Filmes - Parte II - Os Guarda-Chuvas do Amor
II - OS GUARDA-CHUVAS
DO AMOR (Les Parapluies de Cherbourg). França, 1964. De Jacques Demy. Com Catherine
Deneuve, Nino Castelnuovo, Anne Vernon e Marc Michel. 91 min.
De um épico
samurai japonês passamos para um musical da nouvelle vague francesa. Claro,
sabemos que as expressões "épico samurai japonês" e "musical da
nouvelle vague francesa" são rótulos. Como rótulos, estão longe de expressar
a qualidade desses filmes. Mas vamos lá.
Gênero:
Musical
Prêmios:
Oscar, em 1965,
de melhor filme estrangeiro; indicado ao Oscar, em 1966, de melhor roteiro
original, melhor canção original (I Will Wait for You), melhor trilha sonora adaptada
e melhor trilha sonora original; indicado ao Globo de Ouro de melhor filme em
língua estrangeira; indicado ao Grammy de melhor canção original para filme ou
programa de TV; Grande Prêmio do Júri em Cannes (empatado com o brasileiro
"Vidas Secas"); Palma de Ouro de melhor filme em Cannes; Melhor filme
do Sindicato dos críticos de cinema da França; Prêmio Louis-Delluc de cinema.
Posição no
IMDB:
nota 7,8 com 14.633
votos (até 29/04/2016)
Por que é um
dos grandes?
"Os
Guarda-chuvas do Amor" têm várias particularidades que o tornam uma
obra-prima única, impossível de ser refilmada. Uma dessas peculiaridades são os
cenários e figurinos com suas cores exuberantes e de muito bom tom. Outra
é o fato do filme ter todos os seus diálogos cantados e, o que é melhor, com
canções de Michel Legrand. O estilo de filmagem do diretor Jacques Demy
(1931-1990) combina música e cores como ninguém e rendeu também "Duas Garotas
Românticas" (1967) e "Pele de Asno" (1970). Os três filmes são
uma parceria Jacques Demy - Michel Legrand - Catherine Deneuve. A qualidade do
diretor, do compositor e da atriz dispensa comentários.
À parte todas
as qualidades técnicas ditas acima — que ficam mais fáceis de entender vendo
trechos do filme — o roteiro também se destaca. Ele conta a paixão de dois
jovens, Geneviève e Guy. Ela tem 17 anos e ele 20, e moram na pequena cidade de
Cherbourg, no norte da França, em fins dos anos 50. Ela cuida com a mãe de uma
boutique de guarda-chuvas e ele é mecânico. Apaixonados, os dois vão ter que
enfrentar certas circunstâncias da vida se quiserem ficar juntos.
Da mesma
maneira que o colorido da fotografia, figurino e cenários não fica cafona, o
romance não é em momento algum banal. Porque amores não caminham em linha reta,
previsível: fazem curvas, têm idas e vindas, altos e baixos. Há questões
pessoais, familiares e profissionais envolvidas, que tanto aproximam Geneviève
e Guy da vida real. Só que de forma ímpar, terna, emocionante. O que parece
sentimentalóide transforma-se em único. Por isso o filme mexe tanto com as
emoções, mas sem ser sentimentalóide.
É notável o bom gosto do diretor Jacques Demy na cenografia e em certas passagens do roteiro. Vulgaridade é palavra desconhecida em seu dicionário, ainda quando trata de questões como o sexo ou, por exemplo, o incesto em "Pele de Asno".
Seu apurado requinte artístico-visual não mascara fraquezas de "Guarda-chuvas...", como alguns de seus críticos afirmam; vejo o contrário, onde tudo trabalha em conjunto, de maneira que é impossível dissociar um aspecto do filme de outro.
Mas é
indiscutível que o colorido dos cenários e figurinos — que acompanham as
estações do ano — constituem o ponto forte e a "marca" do diretor.
Exemplo bem perceptível é, logo na cena de abertura, os guarda-chuvas alinhados, cada um de uma cor, aguardando a passagem dum carrinho de bebê.
As canções
de Michel Legrand também são essenciais para que o filme seja uma obra-prima. É
impossível separá-las dele. Michel Legrand é do primeiro time de compositores
do século XX. Além das parcerias com Jacques Demy, fez trilhas sonoras para
"The Thomas Crown Affair", "Retratos da Vida",
"Yentl", etc.
O filme
"A Lenda da Flauta Mágica", que marcou a infância de tantos, é
inclusive outra parceria entre Jacques Demy e Michel Legrand.
Quanto à
estória de "Guarda-chuvas...", não há muito o que contarmos, sob pena
de spoilear e estragar a graça.
Que tal
então algumas cenas do filme? Como dissera, vendo temos uma melhor idéia da
obra única que ele é. Obra a ser sempre admirada, sempre emocionante.
O começo
A despedida na estação, um dos momentos mais emocionantes do cinema
A canção "I Will Wait for You" na versão pop gravada por Cher
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