Crítica de filme - Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos



Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos (Warcraft). Estados Unidos, 2016. De Duncan Jones. Com Travis Fimmel, Paula Patton, Ben Foster e Dominic Cooper.


O Encontro do cinema com os games



Começamos com um trocadilho: "o primeiro encontro de dois mundos" é também o encontro do mundo do cinema com o mundo dos games, isto é, dos jogos de console e computador. Esqueça "Super Mario Bros." (1993) e "Street Fighter A Última Batalha" (1994) como adaptações de games para o cinema. Se ambos foram games de grande sucesso, na telona fracassaram e esse fracasso pôs em xeque, durante bastante tempo, a viabilidade de um game virar filme. Como resultado, filmes a seguir tiveram orçamentos reduzidos, o que prejudicou sua qualidade, como foi o caso de “Mortal Kombat” (1995). Outros tiveram orçamentos melhores e grandes atrizes, mas não ficaram bons. É o caso de “Resident Evil” (2002) e “Tomb Raider” (2001).

Mas há algo importante nisso aí. Mario e Street Fighter triunfaram na época dos consoles de 4/8/16 bits sendo Mario bem mais antigo. Seus enredos eram limitados frente aos games atuais, cuja tecnologia é infinitamente superior. Seus comandos se resumiam a bater, correr, pular e a uma ou outra coisa de mais efeito. Com o tempo e o avanço da tecnologia, os games foram ficando parecido com filmes: orçamentos cada vez maiores geraram gráficos realistas, enredos passaram a ser elaborados por roteiristas e a jogabilidade ficou mais complexa. O mundo dos jogos ficou mais denso, enfim, mais parecido com algo como um “filme interativo”. Você hoje comanda personagens, civilizações, veículos, etc., numa verdadeira narrativa, guiada por um roteiro que é o jogo em si (fases, chefes, cenários, expansões). Você guia "peças" únicas, personalizadas. A narrativa dos jogos logo foi reapropriada pelo cinema, até porque sabemos que o mercado de games já faz parte da sociedade e é bilionário. Com "Warcraft", 2016, atingimos o ápice, ou melhor dizendo, o começo do ápice.

Lembremos que são muitos os filmes que geraram games. Pouquíssimo exemplos citarei: "ET" para o atari, começo dos anos 80; Alladin e os desenhos da Disney que se seguiram, dos anos 90 pra cá. "Star Wars", por exemplo, tem cenas, como a da corrida do "Episódio I - A Ameaça Fantasma" (1999), que parecem ter sido feitas mais para vender games que para ajudar no desenvolvimento da história.


O filme


Enfim, os games caminharam para o cinema, o cinema para os games. Via de mão dupla.

"Warcraft", o filme, pega muitos elementos do jogo, bem adaptados à tela grande. Quem conhece alguma das várias versões do game e ver o filme não se surpreenderá negativamente. Provavelmente gostará, se sentirá dentro de um cenário de campanha.

O design de produção do filme ficou bom – como o do jogo, que é um dos seus pontos fortes – e o ritmo é ágil. Sua temática de fantasia medieval lembra, no cinema recente, a saga "O Senhor dos Anéis". Mas entre eles há uma diferença notável: a agilidade de "Warcraft". As ações, diálogos, poderes mágicos e de combate não ficaram diluídos em tantas horas de filme. Isso deixou "Warcraft" com mais cara de RPG de aventura. Essa dinâmica lhe é favorável. São 123 minutos de Warcraft contra 180 de cada uma das três partes da obra de Tolkien.


Wacraft 2 (no alto) e World of Warcraft (embaixo)


Vamos à estória. O encontro entre humanos e orcs se dá quando estes últimos, liderados por Gul'dan, constroem um portal que dá acesso ao mundo dos homens. Nesse mundo, parecido com a Europa Medieval fantástica, existe muita magia, convivem homens, elfos, anões e outras espécies. Os costumes lembram instituições medievais, como a lealdade ao rei, a suserania e a vassalagem.

Só que o poder de Gul'dan e do portal provém da Magia da Vileza, que, para agir, requer a essência da vida. Isto é, a vileza, para funcionar, destrói a vida.

A vileza acabou com o mundo dos orcs, consumiu suas florestas, criaturas e demais recursos. Agora, essa raça guerreira encontrou no mundo dos humanos muita vida para sugar e sustentar sua espécie; muita matéria-prima para a vileza.

Mas nem todos os orcs crêem na vileza. Durotan é um deles, um chefe de clã que sabe que o preço que a magia cobra é muito alto. Nesse sentido, pontos para "Warcraft", pois evita – quando pode – maniqueísmos. O filme não se resume a orcs como vilões e humanos como mocinhos. Exemplo oposto é "Independence Day", que retorna aos cinemas depois de 20 anos.

De qualquer modo, logo os orcs começam a varrer vilas e exércitos humanos. A guerra é fato. O rei Llane Wrynn precisará contar com seu capitão Lothar e com Medivh, o guardião do reino, para conter a ameaça orc.

O final aberto do filme não esconde que se trata de uma saga, de que haverá continuações. Esse é só o primeiro encontro de dois mundos, como ressalta o título; haverá muitos outros.


Cotação: êêê (ótimo)

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