Três Grandes Filmes - Parte III - Nós que Nos Amávamos Tanto



III – NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO (C’eravamo Tanto Amati). Itália, 1974. De Ettore Scola. Com Vittorio Gassman, Nino Manfredi, Stefania Sandrelli e Stefano Satta Flores. 124 min.

O terceiro “dos grandes” é um drama, com toques de comédia, italiano. Talvez seja o “menor” dos três, se visto do ponto de vista da influência que deixou. Na verdade, o filme é fundamental pelo contrário — pelas influências que recebeu.

Gênero:
Drama
Prêmios:
Melhor filme no festival de cinema de Moscou; Taça de ouro de melhor atriz e melhor direção e Cálice de ouro de melhor filme na Itália, junto com "Perfume de Mulher"; melhor ator coadjuvante, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro pelo Sindicato Italiano de Jornalistas de Cinema; indicado para melhor diretor e ator — Stefano Satta Flores — na mesma premiação; César de melhor filme estrangeiro em 1977.
Posição no IMDB:
nota 8,2 com 3.365 votos (até 10/05/2016)
Por que é um dos grandes?
Ettore Scola (1931-2016) foi o último grande nome vinculado ao Neo-realismo italiano. “Nós Que Nos Amávamos Tanto” é um marco dessa escola de cinema, ainda que realizado tardiamente, quando o movimento havia muito perdera o impulso. Não é demais lembrar que ao Neo-realismo italiano estão ligados diretores do quilate de Vittorio De Sica, Visconti, Rosselini, Fellini (no começo da carreira), entre outros. Em “Nós Que Nos Amávamos tanto”, temos três amigos apaixonados pela mesma mulher, de 1945 até o fim dos anos 60. O aspecto humano é o maior primor do filme: doce e terno, ora engraçado ora dramático, apresenta-nos personagens cativantes, gente como a gente, com forças e fraquezas, bem como as mudanças por que vão passando ao longo do tempo da juventude idealista do pós-guerra à vida madura. Enfim, uma obra emocionante, singela e verdadeira. Sempre com um pé no Neo-realismo. Destaca-se ainda por seu saudosismo e sua homenagem aos grandes mestres do cinema italiano. Nesse segundo caso, temos três exemplos: a cena em que o personagem Antonio invade a Fontana de Trevi, em Roma, no momento em que Fellini está filmando a famosa cena de “A Doce Vida”, com Marcello Mastroianni e Anita Ekberg; o programa de TV no qual Nicola testa conhecimentos sobre o cinema italiano, mais especificamente a parte relativa a "Ladrões de Bicicleta"; e no final, quando o filme é dedicado a Vittorio De Sica. Como os outros "três grandes", tem trilha sonora excelente. Belíssima homenagem.




Três amigos — Antonio, Gianni e Nicola — que lutaram juntos na resistência italiana na Segunda Guerra Mundial se reencontram e se vêem apaixonados pela mesma mulher — Luciana (Stefania Sandrelli). O filme acompanha os quatro do pós-guerra até o fim dos anos sessenta.

Cada um segue um rumo diferente após a guerra, entre encontros e desencontros (quando não brigas). Antonio (Vittorio Gassman) vira técnico de enfermagem; Gianni (Nino Manfredi) torna-se advogado e Nicola (Stefano Satta Flores) cada vez mais um comunista chato, teórico. Isso para resumir, pois são quase três décadas de passagem. A partir do rumo dos amigos, temos o rumo do próprio país: as opções a seguir, as desilusões e amarguras, a adaptação a novas realidades, entre tantas coisas.

O filme tem alma caracteristicamente italiana ainda que falar assim soe clichê. Mas não uma alma forçada, como ocorre com “Nine” (2009), por exemplo. Os pequenos prazeres da vida, os desentendimentos, a tagarelice, as tempestades que fazemos dentro de copos d’água, coisas tão características da latinidade, estão presentes.

O diretor Ettore Scola nunca perde o foco neo-realista, mas adota técnicas cinematográficas enriquecedoras. Exemplo de outra obra com características neo-realistas do diretor é “Um Dia Muito Especial” (1977), grande filme com Marcello Mastroianni e Sophia Loren. Já em “O Baile” (1983), usando técnicas primorosas, o diretor conta a história da França de 1930 a 1980, apenas através de dança e música instrumental, a partir de personagens reunidos num salão de dança.

Um ótimo exemplo da técnica poética do diretor em “Nós Que Nos Amávamos Tanto” é certa cena que demonstra que o tempo muda para os apaixonados, porque seus pensamentos e ações estão num mundo próprio, particular. Enquanto todos os demais no restaurante estão congelados, os apaixonados se movem, pensam e falam. O tempo é subjetivo; o pensamento transcende a realidade. Enfim, uma maneira simples de tratar coisas complexas. Truque simples, mas de mestre. E o filme é assim: complexo, mas estruturalmente simples e divertido em sua melancolia.

Em resumo, é a simplicidade, o sangue quente das emoções, elaborado de forma poética. Os quatro personagens “que tanto se amavam” nos emocionam com seus caminhos e descaminhos, suas escolhas, paixões vividas e abortadas.



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