Crítica de filme: Trumbo - Lista Negra
Trumbo — Lista Negra
(Trumbo). EUA, 2015. De Jay
Roach. Com Bryan Cranston, Diane Lane e Helen Mirren. Durante a "caça às
bruxas" em Hollywood, nos anos 40-50, o roteirista Dalton Trumbo é preso
por ser comunista e tem seu nome colocado numa lista negra, que boicota seus roteiros. 124 min.
Filme é o "Z"
Hollywoodiano
No fim dos anos 40 e início dos anos 50 a Guerra
Fria estava em seu auge. Os Estados Unidos, preocupados com a ameaça comunista
soviética, viveram um dos períodos mais controvertidos da sua história. O país
da liberdade e das oportunidades rompeu sua escrita histórica e passou a
perseguir pessoas por delitos de opinião e pensamento. Em Hollywood, vários profissionais,
entre produtores, diretores, roteiristas e atores foram perseguidos, impedidos
de trabalhar, chantageados e presos; bastava não apoiarem o Comitê de Atividades
Antiamericanas.
Dalton Trumbo (1905-1976) não foi a única vítima,
foi apenas um dos mais conhecidos e prejudicados. Não esqueçamos Charles
Chaplin, nascido na Inglaterra e "convidado" a se retirar dos Estados
Unidos — depois de tudo o que fez pelo cinema americano — por simpatizar com o
comunismo. Não esqueçamos tantos outros, cujas vidas e carreiras foram
prejudicadas ou interrompidas por um retrocesso no país símbolo das liberdades;
uma vergonha comparável, unicamente, à segregação racial em voga na mesma época
em vários estados sulistas.
Após prestar depoimento no congresso, que
investigava atividades antiamericanas — comunistas, em resumo — Trumbo vai
preso.
Mas Dalton Trumbo não adotou o discurso
revolucionário tradicional, não caiu na armadilha de "tentar a
Revolução" na América. O que fez foi continuar fazendo aquilo que lhe
tinham proibido: escrever. Essa foi a forma que encontrou de resistir. Ele
assinou vários roteiros através de pseudônimos, ajudou vários colegas da lista
negra a trabalhar na clandestinidade, escrevendo roteiros para produtores de filmes
B — filmes não necessariamente vinculados a mensagens comunistas, subversivas.
Em 1954, ganhou — mas não levou, pois não teve seu nome nos créditos — o Oscar
de "Melhor Roteiro - História para Cinema" por "A Princesa e o
Plebeu"; em 1957 o mesmo aconteceu na categoria "Melhor Roteiro e
História" por "Arenas Sangrentas".
Trumbo é retratado como um homem comum, não é
sobre-humano, gênio inatingível, redutível a ideais metafísicos. Fez o que pôde
para contornar a situação. Sua conduta foi prática, em sua luta pela liberdade
de expressão e pelo fim da lista negra de Hollywood.
O filme, aliás, mostra bem isso na relação familiar
de Trumbo com sua esposa e filhos. Eles levam uma vida normal, dentro do
possível. Destaca-se a relação dele com sua filha mais velha, que se percebe muito parecida com o pai.
A direção discreta e conservadora e o excelente
elenco (Bryan Cranston foi indicado ao Oscar de melhor ator interpretando
Trumbo) ajudam a sintonizar o lado profissional com o familiar do personagem. Em
certo momento o clichê funciona: Trumbo, que tanto luta contra a opressão, percebe-se
opressor dentro do seu lar. Enfim, ambos os contextos são inseparáveis, como
podemos perceber no discurso final.
Mas o filme e seu personagem não caem no lugar
fácil do comunismo revolucionário. É antes um libelo a favor da tolerância e
contra qualquer tipo de preconceito, opressão. Uma defesa dos fracos, contra os
fortes; apologia da tolerância, do poder de convencer o outro de que está
errado. Tudo isso, aliás, está bem presente nos trabalhos de Trumbo. Se ser
assim é ser de esquerda, o personagem e o homem real o foram integralmente.
À moda de Hollywood, Trumbo fez a política dita
esquerdista, dentro do que era possível; daí a comparação com "Z"
(1969), de Costa-Gavras, o filme político por excelência.
Cotação: êêê (ótimo)
Importante conferir a carreira de Dalton Trumbo:
além do dito no filme, assinou os roteiros de "O Homem de Kiev" (1968),
"Pappilon" (1973) e dirigiu a obra-prima "Johnny Vai à Guerra"
(1971). Obras que retratam lutas de pessoas contra um sistema, um conjunto que
os oprimia, mas sem cair no discurso fácil.
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