Crítica de filme: Monster - Desejo Assassino (2003)



Monster – Desejo Assassino (Monster). Alemanha / Estados Unidos, 2003. De Patty Jenkins. Com Charlize Theron e Christina Ricci. Drama. 109 min.


“Monster – Desejo Assassino”, baseia-se na história real de Aileen, uma mulher que foi condenada à morte e executada em 2002 após matar vários homens. Prostituta, lésbica e com vários transtornos de personalidade, foi considerada a primeira mulher assassina em série dos Estados Unidos.


A personagem é aquela pessoa que respondeu com maldade a maldade que recebeu. Algumas pessoas dão a volta por cima, conseguem transformar em limonada o limão que a vida lhes dá – mas reconheço, esse termo é bem chulo, coisa de locutor de rádio AM, ainda mais se compararmos com um limão ou coisa azeda ser prostituta desde cedo, ter engravidado do próprio irmão e dado o bebê para adoção e ter sido abusada sexualmente pelo pai aos oito anos de idade. Mas Deus não dá às pessoas fardo que elas não possam carregar. E Aileen reagiu às dificuldades da vida de forma negativamente. Ela não se tornou somente alguém que desconhece regras simples de convivência, mas uma mulher violenta e coisa pior: numa assassina serial.


No filme, maltratada pela vida – inclusive na aparência - Aileen vê em Selby (Christina Ricci, a eterna garotinha de “A Família Adams”) uma chance de redenção. As duas se conhecem quando Aileen chega a um bar gay por acaso. Selby, que é lésbica, se aproxima, puxa uma conversa e pouco depois diz: “Não acredito que os homens pagam pra transar com você, uma mulher tão bonita.” Uma cantada simples, banal, se transforma num elogio que rapidamente faz com que Aileen, heterossexual convicta, caia de amores pela garota que lhe fez o elogio. A vida que só lhe trouxe pedradas agora lhe dá uma flor. Assim, por um momento, a fera é desarmada.


Aileen Wuormos


Charlize Theron no filme


Mas a vida de Aillen é um conto de fadas ao avesso. Ela estraga as coisas ao tentar levar uma vida “normal”: não consegue um emprego “normal”, não tem qualquer qualificação, já foi presa, demonstra rompantes de fúria e total falta de tato... seu estado embrutecido, então, não permite um discernimento, digo, antes o prejudica, e sua cognição do certo é deformada, psicótica. Logo ela, que matou pela primeira vez em legítima defesa, passa a matar por motivos fúteis. Selby, por sua vez, revela-se uma garota mimada e indecisa. Aileen é um monstro, mas isso não isenta a sociedade que a pariu.

Charlize Theron está ótima. Ela é, aliás, excelente atriz. É boa em escolher papéis e não tem medo de encarar desafios. “Monster” é um desafio. É um papel que envolveu transformação física intensa – Charlize Theron teve que engordar muitos quilos, raspar sobrancelhas e de beldade virou uma prostituta feia e sem nenhum glamour (esqueçam a Julia Roberts e sua personagem Vivian Ward de “Uma Linda Mulher”). Mas não é o físico que impressiona. Alguns atores e atrizes foram premiados com o Oscar mais por sua transformação física que pela interpretação, como, por exemplo, Nicole Kidman e seu nariz postiço em “As Horas” e Matthew McConaughey e Jared Ledo pela magreza em “Clube de Compras Dallas. Com Charlize Theron em “Monster” não foi isso que aconteceu. O modo de falar e agir da personagem, suas mudanças de humor e emoções contraditórias são difíceis de interpretar. Destaco a cena da despedida das amantes no ponto de ônibus, em que Aileen, com cigarro e bebida na mão, se põe a falar, falar e chorar. Um Oscar mais do que merecido para a atriz que fez papéis tão diversos e em filmes tão diferentes como “Mad Max – Estrada da Fúria”, “Prometheus”, “Terra Fria” e “Regras da Vida”.

Cotação:

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