O Som e a Fúria (The Sound and the Fury):
James
Franco dirige e atua nesse filme que é baseado na obra de William Faulkner. Ele
faz Benjy, deficiente mental, um dos quatro filhos de um aristocrata sulista do
Mississipi, no início do século XX.
O
filme é dividido em três capítulos. Cada capítulo foca num dos três irmãos
homens, em sua infância e vida adulta, num período que cobre uns vinte e cinco
a trinta anos. A única irmã, Caddy, não tem um capítulo para si, mas sua
presença domina a vida dos três irmãos, mais que o pai e a mãe.
Cada
um dos filhos do Sr. Compson sintetiza a decadência dos valores da elite
familiar tradicional sulista. Quando mencionamos “família tradicional” e
“decadência”, nos referimos à elite sulista com suas características:
patriarcal, machista, racista, purista. Uma sociedade quase que imobilizada,
que se recusa a aceitar a chegada de novos tempos, máxime a modernização
trazida pela segunda metade do século XIX. Esse apego à imobilização é uma das
principais características da sociedade do sul dos Estados Unidos e é
consequência de outra coisa: de acreditar ser o seu modo de vida perfeito,
insuperável.
A
família perfeita e modelo é aquela branca, dona de fazendas, rica. Não foi para
outra coisa que para defender essa sua perfeição e superioridade, que o Sul
separou-se do Norte e guerreou. Perdeu a guerra, os escravos foram libertos,
mas a resistência às mudanças e a crença em sua infalibilidade continuaram. Tudo que
não se encaixa nos seus valores é doentio, seja do ponto de vista físico – e
Benjy é exemplo disso, em sua idiotia – seja do ponto de vista social. Assim,
qualquer coisa que mine essa perfeição é varrida para debaixo do tapete,
escondida, motivo de vergonha, para que, do alto de sua desgraça, o homem
branco, dono de propriedades porém falido – e Jason é o exemplo disso – possa
se orgulhar de sua aparência de perfeição.
Para
exemplificar, em determinado momento Jason diz que, por ter muitos acres de
terra, ninguém pode olhá-lo por cima, ainda mais “pessoas cuja maior conquista
é uma pequena loja”.
James
Franco mostra não ser apenas um rosto bonito, e cada vez mais entrega-se a
desafios. Adaptar uma obra de William Faulkner é um desafio e tanto, algo que
poucos diretores têm coragem. Como ator ele tem buscado papéis que fujam do
convencional. Por exemplo, interpretou a Raposa em O Pequeno Príncipe e um ator pornô no péssimo King Cobra. Aqui ele pega o papel mais difícil, de Benjy, que só
consegue se exprimir através de sua agitação; ele está muito bem no papel. Quando
do lançamento de O Som e a Fúria
James Franco contava com apenas 36 anos mas um extenso e variado currículo como
ator e diretor. Ele surgiu com o cinema “mainstrean”, mas dele tem fugido para dedicar-se
a projetos pessoais.
Sua
direção entrega aos poucos a história, aos poucos o espectador vai conhecendo
os personagens e quem é quem, assim como ocorre com o livro. O fluxo de
consciência é bastante utilizado na narrativa, bem como a não-linearidade.
Entretanto, O Som e a Fúria fica longe do livro, apesar de imprimir suas marcas. Seria bom vermos a obra-prima de William Faulkner adaptada por um diretor mais experiente e versado. Para mim, entre os diretores em atividade, Terrence Malick seria a primeira opção. Jonathan Demme, que fez O Silêncio dos Inocentes e Bem-Amada, seria o nome a concorrer com o texano, mas faleceu em abril de 2017, aos 73 anos.
Entretanto, O Som e a Fúria fica longe do livro, apesar de imprimir suas marcas. Seria bom vermos a obra-prima de William Faulkner adaptada por um diretor mais experiente e versado. Para mim, entre os diretores em atividade, Terrence Malick seria a primeira opção. Jonathan Demme, que fez O Silêncio dos Inocentes e Bem-Amada, seria o nome a concorrer com o texano, mas faleceu em abril de 2017, aos 73 anos.