E a Vida Continua (1993)
E a Vida Continua (And the Band Played On):
É
um filme muito bom, obrigatório para todo médico, cientista ou profissional da
área da saúde. Feito para a TV, aborda o surgimento da epidemia da AIDS nos
Estados Unidos e Europa, no início da década de 80, focando num grupo de
profissionais do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Norte-americano.
Eles
se depararam com uma doença desconhecida, que se propaga inicialmente dentro do
grupo homossexual, destrói as defesas do organismo da pessoa, debilitando-a, e cuja
mortalidade é de 100%.
O
Ocidente vivia o ápice do drama da AIDS quando o filme foi feito, em 1993. Nessa
época, apesar da ciência ter avançado quanto à prevenção, a doença continuava
sem tratamento satisfatório e ainda era sinônimo de morte e sofrimento.
A
destruição das defesas do organismo, provocadas pelo vírus HIV, deixa o corpo sujeito
a todo tipo de infecção, como tuberculose, pneumonia, toxoplasmose, sarcoma,
etc. Isso aumenta o drama do soropositivo, mas doía mais o preconceito, pois a
AIDS foi tratada, inicialmente, como um “câncer gay”, por ter se espalhado
primeiramente entre os homossexuais a partir do sexo, numa época em que as
pessoas não se protegiam. Entretanto, como o vírus não distingue sexo, preferência
sexual, raça ou qualquer outra coisa, logo surgiram idosos, mulheres e crianças
contaminadas.
Ainda
assim, a epidemia em seu princípio vitimou tantos homossexuais masculinos que
morrer da doença era sinônimo de ser gay. Por isso, mais pelo preconceito do
que pelo medo, pessoas famosas e ricas escondiam o quanto podiam ser portadores
do vírus
A
parte dos estudos científicos sobre o vírus causador da AIDS também é muito
boa, com destaque para os profissionais do Centro de Controle e Prevenção de
Doenças dos Estados Unidos e os cientistas do Instituto Louis Pasteur, na
França. O Dr. Robert Gallo, interpretado por Alan Alda, aparece como
contraponto ao empenho humanitário dos cientistas em descobrir o que causa a
doença, para então deter a epidemia. Como o filme mostra, seu interesse está
unicamente nos créditos da descoberta do vírus e no dinheiro e prestígio advindos
de patentes para exames e tratamentos. Além disso, ele mostra a reticência
inicial dos bancos de sangue em fazer testes em sangues doados que identifiquem
o vírus, bem como a falta de energia dos políticos em reconhecer que uma
epidemia mortal vinha se alastrando. Se os bancos de sangue e os políticos
tivessem agido mais cedo, milhares de pessoas não teriam sido contaminadas.
Um
elenco de peso, como raramente visto no cinema, reuniu-se para o filme. Em
pontas aparecem Anjelica Houston, Richard Gere, Steve Martin e Phil Colins. O
elenco principal conta com Matthew Modine, Alan Alda, Saul Rubinek, Ian
Mckellen e Lily Tomlin.
No
fim, o filme faz uma homenagem a várias pessoas famosas que morreram por conta
da doença ou a contraíram até então. Aparecem Freddie Mercury, Liberace, Rock
Hudson, Arthur Ashe, Michel Focault e muitos outros, ao som da canção “The Last
Song”, de Elton John, homossexual assumido que, como tantos, viveu toda essa
época de angústia e sofrimento. Os anônimos estão representados Hoje a
prevenção e a melhoria do tratamento diminuiu o sofrimento causado pela AIDS
nos Estados Unidos, Europa e América Latina, mas deixou marcas em toda uma
geração desses países. Uma delas é o sexo protegido. Hoje, usar preservativos
faz parte da nossa cultura, tal como, por exemplo, usar o cinto de segurança no
automóvel. Entretanto, pessoas jovens vem sendo o grupo em que a contaminação
do AIDS mais tem aumentado: são pessoas que não presenciaram essa época de
tantas perdas e não têm consciência do perigo em que incorrem fazendo sexo
desprotegido.
Na
África Subsaariana houve uma verdadeira catástrofe, com níveis de infecção superiores
a 20% da população adulta em alguns países, a partir da década de 90. Mas hoje,
felizmente, a epidemia dá sinais de regressão, graças aos medicamentos
retrovirais e às campanhas de conscientização.
A
epidemia do HIV marcou e marca profundamente o Ocidente, e E A Vida Continua é um relato pungente e bonito sobre o drama,
feito no calor dos acontecimentos e, por isso, triste.
Segue
a cena final do filme, com a canção “The Last Song”.
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