A Noiva (2017)
A Noiva (2017):
Trata-se
de um filme russo de terror que decepciona total. Quando fui vê-lo esperava algo
diferente, mas de cara percebi que não, pois, pra começar, a cópia no cinema
estava com uma dublagem – péssima – em inglês. Quer dizer, havia dois filtros: um
primeiro do russo para o inglês e um segundo do inglês para o português.
Assim
é a Bíblia. Jesus Cristo provavelmente pregava em aramaico, assim como seus
apóstolos, mas o Novo Testamento foi escrito inicialmente em grego, e para nós
o que chegou hoje foram traduções de traduções de traduções. É quase certo que
Jesus também soubesse grego e latim, mas, em suas pregações para os judeus,
usava a língua deles, o aramaico.
Lógico,
não estou comparando esse filme com a Bíblia. Nem ousaria. Só estou dando um
exemplo pra ideia ficar mais clara.
Ainda
que A Noiva estivesse no idioma
original, não se salvaria. A história é muito mal contada, o roteiro cheio de
furos, a fotografia é de TV e as atuações são péssimas. Gostei só da trilha
sonora. No restante, o filme é exemplo de falta de talento.
A
história macabra começa quando um fotógrafo, no século XIX, faz sua esposa
reviver enterrando-a com uma camponesa virgem, de cujo corpo se apossaria
através de um ritual, dando a ela vida eterna. Qual o ritual? O filme não diz.
Só diz que o corpo tem que ser puro, isto é, virgem. A “alma” da esposa do
fotógrafo fica a partir daí conservada no negativo de uma foto.
Não
quero julgar um país por uma obra – e uma obra ruim, no caso – mas vincular a pureza
da mulher com sua virgindade é machismo. Não pega bem para a imagem da Rússia essa
característica do filme, pois acentua a visão que o Ocidente tem do país como
machista. Em boa parte do Ocidente essa correlação já é assunto superado, mas
parece que não na Rússia. Para corroborar, o país aparece de vez em quando nas
manchetes por outra vertente do machismo, que é a perseguição aos homossexuais.
O
filme corta para a atualidade e temos uma jovem recém-casada que viaja com o
marido para conhecer a família dele. Porém, logo passa a ser assombrada pelo
lugar, ao mesmo tempo em que eles preparam uma cerimônia de casamento eslava
tradicional.
Acho
que a inspiração de A Noiva foi o
sucesso norte-americano Corra!, no
qual brancos rifam um rapaz negro para ocupar o seu corpo, numa espécie de escravidão
de mente e cérebro. Entretanto, se o diretor Podgayevskiy buscou essa ideia
para fazer um terror mais clássico, falhou por completo. A julgar por sua
carreira até o momento, vai competir com Uwe Boll como o pior diretor do mundo.
Competição acirrada.
Exemplos
de absurdos do roteiro: 1) ninguém fez um simples exame para saber se a garota
é mesmo virgem; 2) ninguém nunca vasculhou a casa à procura do negativo que
guarda a alma da “Mãe”; 3) ninguém explica porque a mulher é assim chamada e
porque eles são amaldiçoados por ela, ou ainda, quem é amaldiçoado e qual é a
maldição; 4) por que o rapaz, que tem boas intenções para com a esposa, a leva
para a casa da irmã, sabendo que eles precisam do corpo de uma jovem pura?; 5)
as pessoas se defendem da “Mãe” fechando os olhos e tampando a respiração, mas
às vezes isso dá certo, às vezes não, depende de sei lá o quê.
Mas
o maior de todos os absurdos é que, segundo o filme, ele é baseado numa
história real.
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