O Sol (Solntse)
O Sol (Solntse):
Um
excelente filme, um dos quatro da tetralogia da maldade do diretor russo
Alexandr Sokurov. Os outros três são Taurus
(Lênin e Stálin), Moloch (Hitler) e Fausto, adaptação da obra de Goete.
Como
em Taurus e Moloch, o diretor traz uma visão intimista e um tanto pessoal da
vida de um grande personagem da Segunda Guerra Mundial, o imperador japonês
Hirohito. Pela história, pouco sabemos da guerra, e muito sobre o comportamento
retraído e estranho de uma pessoa que era vista como homem em carne e osso, mas
filho dos deuses. O bom é que, por mais que seu caráter seja divino e
inquestionável, “o sol” se mostra humano e frágil como qualquer um de nós –
como Hitler, Stálin e Lênin foram também retratados, em suas fragilidades,
futilidades e delírios.
Toda
a pompa e os servos que servem ao imperador Hirohito o tornam alguém não
mimado, mas, nas palavras do general americano Douglas MacArthur, “parecido com
uma criança”. Hirohito, assim, tem dificuldade em fazer coisas básicas, como
vestir-se ou abrir uma porta. Não é que ele seja mimado, no sentido atual do
termo; ele é alguém que vive numa outra realidade, que é visto como Deus, tem
um rigoroso código de comportamento em público – para ser fotografado, existem
várias regras, por exemplo – mas que é extremamente culto e dentro de certos
limites, consciente de seus atos. E recebe ajuda de servos para tudo. Servos
mais obedientes e admiradores que tementes.
Seu
contato com as tropas americanas levanta muita curiosidade e estranhamento nos
ocidentais. Os soldados esperavam encontrar alguém destilado de ódio como o Fürher
ou o Dulce, mas se deparam com alguém difícil de explicar, sobre quem recai, em
princípio, mera prisão domiciliar.
A
interpretação de Issei Ogata, que faz o imperador, é excelente, seja quando
expressa resiliência, quando divaga-se em poemas, quando estuda animais, quando
discute sobre a guerra ou quando age conforme a etiqueta que um imperador
japonês deve ter. Um tique do personagem é mexer seus lábios sem pronunciar uma
palavra.
Como
bem o General MacArthur assevera, todo esse mundo do imperador acaba com a
derrota na Segunda Guerra Mundial. Estava certíssimo, pois o Japão seria refundado
nos moldes ocidentais e o imperador teria seu caráter divino negado. Conveniente
para este último, pois, poderia ter uma vida “normal” ao lado da família, deixando
como legado um país destroçado.
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