Crítica de Filme - O DIA DEPOIS DE AMANHÃ


O Dia Depois de Amanhã (The Day After Tomorrow). EUA, 2004. De Rolland Emmerich. Com Dennis Quaid e Jake Gyllenhaal.



Cotação: ê (regular)


Diretor troca um senso comum por outro


Quando o derretimento das calotas polares causado pelo aquecimento global altera o fluxo das correntes marinhas, gerando um novo período glacial no hemisfério norte, os Estados Unidos são então atingidos por toda sorte de catástrofes. Começam por tornados, passam por chuvas de granizo, ondas gigantes, vindo, depois, um frio ártico. Esse é o palco do novo filme de Roland Emmerich, de “Independence Day” e “Godzilla”. Novamente o diretor põe à prova a civilização norte-americana, e novamente confunde seu caos com o mundial. Embora não sejam só os norte-americanos os atingidos pelas catástrofes do filme, e sim todo o hemisfério norte, são aqueles o centro das atenções.

Se “Godzilla” culpava os franceses pelo surgimento do monstro, por causa dos testes atômicos no Pacífico, o grande culpado aqui é a política republicana norte-americana, que prefere a lógica capitalista à ambiental. O presidente do país é retratado como alguém que tem dificuldade de entender as coisas, e quem coordena mesmo é o vice-presidente, com sua argumentação truculenta. Pois bem, no início, ignorados os alertas dos cientistas que monitoram o clima e as correntes marinhas, o cenário fica preparado para a catástrofe, que tem em Nova Iorque seu principal palco. Afinal, sabemos que as correntes marinhas garantem uma temperatura mais amena na costa leste dos Estados Unidos e Canadá, e na Islândia, Ilhas Britânicas e Noruega; sem elas, o frio seria insuportável.

Se de fato os republicanos não conseguem ver as coisas de maneira ampla, o diretor critica esse senso comum substituindo-o por outro, mas não só no sentido da improbabilidade de ocorrer uma catástrofe com a rapidez da do filme. Essa contradição se dá principalmente ao filmar um roteiro previsível e piegas. Há sempre aquela história do pai que deseja se reconciliar com o filho, dos grupos que se dividem, do animal que se salva da catástrofre, etc. As histórias desenvolvidas não são interessantes. Restam ao filme os efeitos especiais e o cenário de destruição, ótimos. Quando o diretor joga para outro ponto ele escorrega. Exemplo são os lobos que atacam os mocinhos, cena cuja finalidade é simplesmente dar um pouco de emoção à história, o que não ocorre, por ser mal dirigida.

Inusitada é a situação que a loucura climática causa. Milhões de pessoas dos países ricos morrem e as que se salvaram dirigem-se aos países do terceiro mundo, de clima quente. É aí que o presidente americano perdoa a dívida dos países que aceitem receber seus cidadãos e nos agradece. E é aí que, enfim, dão-nos valor.


Assistido em 18 de junho de 2004, no Box Cinemas, em São Luís

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