Crítica de Filme - O EXTERMINADOR DO FUTURO 3: A REBELIÃO DAS MÁQUINAS
O Exterminador
do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas (Terminator 3: The Rise of the Machines)
EUA,
2003. De Jonathan Mostow. Com Arnold Schwarzenegger, Nick Sthal e Claire Danes.
Um novo
exterminador vem do futuro para matar John Connor. O modelo antigo também, para
protegê-lo.
Terminator é um
daqueles filmes de toda uma geração, inclusive da minha. O primeiro, de 1984, é
uma ficção científica mas também é um filme de terror. Ele é assustador e
violento, até para os padrões de hoje. O exterminador cyborgue interpretador
por Arnold Schwarzenegger o lançou de vez ao primeiro escalão de Hollywood e é
um ícone de sua carreira junto com Conan –
O Bárbaro (1982). Que menino nunca brincou de espada dizendo que era o
Conan? E, ainda, que nunca brincou com bonequinhos, enfrentando um robô do mal
vindo do futuro e quase invencível, vestindo jaqueta preta e óculos escuros?
Foi
James Cameron, de Titanic, quem
dirigiu O Exterminador do Futuro e O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento
Final. Foram esses dois filmes que também o colocaram no primeiro time de
diretores dos Estados Unidos. Se o primeiro Terminator
é lembrado por ser realmente assustador, o segundo primou pela
superprodução, mas numa época em que as superproduções de Hollywood eram muito
mais autênticas que as de hoje. Exterminador
do Futuro 2: O Julgamento Final foi lançado em 1991, e foi até então o filme
mais caro, tendo custado US$ 140 milhões. Tinha um ponto de partida original:
no primeiro filme, o exterminador foi enviado para o passado para eliminar a
mãe do até então não nascido John Connor, que viria a ser o líder dos humanos
numa resistência contra as máquinas que no futuro tomaram o poder; no segundo, um
exterminador mais poderoso ainda é mandado para assassinar o já adolescente
John Connor, mas do futuro este reprograma o antigo modelo, agora obsoleto, e o
manda ao passado desta vez para protegê-lo.
Assim,
Schwarzenegger passou de vilão do primeiro filme para herói no segundo; de
indestrutível no primeiro, para uma máquina obsoleta. A continuação teve mais
sucesso e também é ótima; a maior diferença, além do orçamento, é a violência. T2 é menos violento que seu antecessor,
é mais um filme de ação que ficção científica ou terror, mas ainda assim é
excelente. O super-exterminador do mal, vivido por Robert Patrick, também assusta,
embora não tanto como o de Schwarzenegger no primeiro filme. De qualquer
maneira, você continua tendo a mesma sensação dos personagens, de estarem
sempre em perigo, sendo seguidos por algo que não desiste nunca.
Mas
os dois primeiros filmes não são só do diretor James Cameron e de Arnold Schwarzenegger.
São também de Linda Hamilton. Seu papel feminino, de Sarah Connor, mãe de John
Connor, líder dos humanos na guerra contra as máquinas, é muito forte e pode
ser comparado com o de Sigourney Weaver em Alien
– O Oitavo Passageiro (cuja continuação mais tarde seria dirigida por James
Cameron, com sucesso). Linda Hamilton sempre defendeu sua personagem com garra
e, no primeiro Terminator, é ela o
alvo do exterminador.
Nesta
segunda continuação só sobrou Arnold Schwarzenegger. Nem James Cameron nem
Linda Hamilton participam. Com isso, T3
já sai perdendo, e muito. A direção coube a Jonathan Mostow, que havia estreado
com Breakdown – Implacável Perseguição,
de 1997, e parece ter definitivamente se incorporado ao esquemão americano com U571 – A Batalha do Atlântico (2000).
Ele é competente em dirigir cenas de ação, mas não compreendeu o espírito de Terminator.
Para
começar, o roteiro é fraquíssimo. Sua síntese é uma repetição da primeira
continuação, só que dessa vez, o super-exterminador que vem do futuro para
matar o já adulto John Connor é uma exterminadora (Kristanna Loken, meio
fraca). O velho exterminador então volta para proteger John Connor, que ganha a
companhia de Kate Brewster (Claire Danes), que, no futuro, será sua companheira
na guerra contra as máquinas.
Faltou
no roteiro de T3 um grande vilão, já
que nos filmes anteriores tínhamos vilões assustadores: no primeiro o
exterminador era uma máquina indestrutível sem piedade, programada para cumprir
seu objetivo de matar Sarah Connor; no segundo, a sacada estava em termos um
duelo de exterminadores, um obsoleto, programado para o bem (proteger John
Connor) e outro moderno, programado para o mal (matá-lo); esse do mal também causava
frio no estômago quando entrava em cena. Mas essa nova exterminadora não mete
medo em ninguém e nem enche a tela. Em parte porque a idéia de “construir o
futuro” foi substituída pelo “assim está escrito”, o que é lamentável. Em
outras palavras, se antes o nosso destino “somos nós quem fazemos”, agora “somos
levados por ele”. Nos dois primeiros filmes, o espectador ficava apreensivo o
filme todo, afinal, o exterminador invencível poderia ser detido? Como? Em T3 o espectador quase não passa por essa
apreensão.
Em
vários momentos o filme atinge a auto-paródia, ele mesmo não se levando muito a
sério. Vide quando, no começo, o exterminador de Arnold vai parar num clube das
mulheres e é lá que encontra um figurino a caráter; quando ele diz que “a raiva
é melhor que o desespero”, pois seu programa comporta noções de psicologia; e
quando antes de abrir a porta de um carro todo destruído ela cai. A gente se
segura para não rir e Arnold também parece segurar o riso. O “Hasta la vista,
baby!” de T2 não era auto-paródia,
mas essas coisas são.
A
originalidade da primeira sequência transformou-se em cenas de ação de uma
truculência inconsequente que lembram as histórias de super-heróis em quadrinhos,
nos quais as coisas acontecem sem atentar para a lógica, isto é, para o que
aconteceu e virá a ocorrer. Tristes dias esses da doutrina “Bush”, em que os
Estados Unidos são o centro do mundo e sua destruição automaticamente importa
no caos da civilização. Mais triste ainda sabermos que a resistência de uma
sociedade destruída por máquinas virá de uma caverna com um microfone e a
bandeira norte-americana ao fundo.
Cotação:
ê (regular)
Assistido
em 14 de agosto de 2003.
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