Crítica de filme - OS IRMÃOS GRIMM


Os Irmãos Grimm (The Grimm Brothers)


EUA/República Tcheca. Direção: Terry Gilliam. Com Matt Damon e Heath Ledger. No final do século XVIII, os dois irmãos escritores se deparam com uma floresta amaldiçoada.


Filme funciona como farsa


Cotação: ê (regular)


Terry Gilliam (de “As Aventuras do Barão de Munchausen” e “Os Doze Macacos”), ex-integrante do Monthy Phyton, ficou famoso por fazer filmes de clima onírico, barroco, meio esquisitões. Sem filmar após muitos anos, tem agora às mãos uma história fantasiosa, cujos protagonistas são ninguém menos que os irmãos Grimm. Só que, de grandes escritores de histórias infantis – Rapunzel e Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, são deles – passam a charlatões que, no final do século XVIII, ganham dinheiro resolvendo mistérios sobrenaturais criados por eles mesmos.  Agem igualzinho à Mistérios S/A do Scooby-doo, com a diferença que são os próprios irmãos que forjam suas bruxas e demônios. Uma bruxa está aterrorizando a vila? Não se preocupe, é só chamar os Irmãos Grimm.

Até que o governo de Napoleão Bonaparte descobre suas falcatruas e lhes dá uma missão: em troca de poupar suas vidas, os irmãos devem resolver um mistério numa vila alemã onde as meninas vêm sumindo na floresta amaldiçoada que a margeia. Nessa floresta, entre outras coisas, as árvores  andam, sapos comunicam-se com pessoas e existe uma torre, onde vive uma rainha má. Tudo de verdade.

É visível no filme a influência estética de “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, de Tim Burton, e da trilogia “O Senhor dos Anéis”, de Peter Jackson. Assim, o visual não é novidadeiro. Os efeitos especiais são ótimos, mas num filme como esse, povoado por árvores que andam, lobisomens e uma rainha-má-que-só-se-importa-com-sua-beleza, só fazem atrapalhar. Explicam tudo e dessa forma podam do espectador sua capacidade imaginativa. O que é péssimo em se tratando de um filme cuja razão de ser são os sonhos, os ditos “feijões”.

Inúmeras são as referências do filme aos contos de fada. Vão de uma garotinha de chapéu vermelho, perseguida por um lobo na floresta, até célebres frases como “que orelhas grandes você tem, que olhos grandes, que boca grande!”, passando por homenzinhos de biscoito. Tudo isso que acontece nos lugares amaldiçoados e na vila alemã, explica o filme, inspiraram os irmãos Grimm a escreverem seus livros. É aí que o filme mais escorrega e o tom de farsa impera sobre o de fantasia. Furos no roteiro (como o general francês que vai sozinho ao lugar misterioso) e um elenco que não convence tornam “Os Irmãos Grimm” uma espécie de “Van Helsing”, ou em outras palavras, uma farsa. Em “Van Helsing”, o célebre professor criado por Bram Stoker vira um brutamontes caçador de vampiros, lobisomens e todo tipo de aberrações. O espectador se vê então bombardeado por criações literárias modificadas de acordo com a lógica industrial do cinema para, supostamente, agradar ao grande público, causando ora riso, ora ação, ora suspense, etc.  O efeito não é como o atingido por “Branca de Neve – A Verdadeira História”, obra na qual Sigourmey Weaver faz a madrasta má da Branca de Neve, numa versão de fato adulta da clássica história “Branca de Neve e os Sete Anões”.

Dessa forma “Os Irmãos Grimm” não faz pensar nem imaginar. Trata-se de um produto para largo consumo com a pretensa marca autoral de Terry Gilliam, cuja carreira desce ainda mais a ladeira.


Assistido em 21/10/2005.

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