Diário em SP - de 29/10 a 31/10
Esta é a segunda parte das minhas aventuras em São Paulo... espero que gostem :) abraços a todos
Segunda-feira 29/10
O dia foi assim-assim. Era pra
ser um dia decisivo, mas não foi. Tirei a segunda-feira para cumprir um dos
principais objetivos da viagem: mostrar meu livro de RPG a editoras
interessadas aqui em São Paulo. Modéstia a parte, considero-o um excelente
trabalho, feito com bastante esmero e pesquisa. Sério mesmo. Dei um duro danado
até deixá-lo do jeito que queria. Isso demorou 15 anos – só que não
ininterruptamente, pois durante determinadas épocas priorizava outras coisas –
como vestibular, faculdade e trabalho. Mas em épocas de férias, feriados, ou
sempre que me vinha inspiração e vontade, desenvolvia meu material. Enfim, coloquei
na mochila dois exemplares e fiz um mapa com o endereço de uma editora de RPG
para lá mostrá-lo a um dos principais autores nacionais. Peguei o metrô e fui à
luta.
Cheguei ao endereço às 11:30.
O imóvel aparentemente estava fechado; bati na porta, toquei campainha e
ninguém atendeu. Certeza eu tinha de que o endereço estava correto – apesar de
não haver no imóvel qualquer indicativo do nome da empresa - mas fazer o quê?
Minha sensação foi de desapontamento. Primeiro, porque imaginei muito como
seria esse encontro: se eu realmente iria conversar com alguém da editora – que
estão entre as maiores autoridades do Brasil quando em se tratando de RPG - , e
como seria essa conversa; e como eu aproveitaria a oportunidade de apresentar
meu trabalho. Será que ficaria nervoso demais? Quanto tempo me dariam? E, o que
achariam, já que até hoje não mostrei o livro a ninguém?
Minha vontade foi desistir.
Mas
não posso desistir tão fácil. Poxa, foram 15 anos para o material ficar pronto.
Perguntei para os vizinhos (muito gentis comigo), e eles me disseram que o
pessoal costuma ficar lá na parte da tarde e nos finais de semana.
Resolvi
andar pelos arredores e conhecer um pouco mais da cidade, enquanto pensava no
que fazer. Assim, “descobriria” São Paulo mais e mais, pelo menos até procurar
um local bom para almoçar. Felizmente, encontro um Habib´s, ótima opção para um
fast food. Muitas pessoas das redondezas vêm para cá, durante o horário de
almoço do serviço.
Enquanto
escrevo e como, dou um tempo para retornar à editora, ver se encontro alguém na
casa. Mas ainda é cedo, não é nem uma da tarde. O ideal é esperar mais e, em
torno de 14:30, voltar à editora, para ver se a sorte me sorri J.
E não é que sorriu? No caminho
de volta à editora estava com poucas esperanças. Mas chegando lá, encontrei uma
senhora no imóvel. Expliquei para ela o que queria, e ela chamou o pai de uma
das principais autoridades em RPG do país. Fiquei meio sem graça, mas conversei
um pouco com ele, e muito atencioso, me informou que o filho estava viajando, mas
me passou o telefone do imóvel.
Bom, saí de lá com esperança,
mas percebi que, para meu sonho se concretizar, precisava batalhar mais. Saio
com mais dúvidas e sem nenhuma resposta. Culpa minha, pois faltou planejamento,
coragem e confiança.
Mas continuei com minhas
andanças... Passei boa parte do tempo no Shopping Paulista. Carregando o peso
de dois livros nas costas, na mochila. No shopping, fui à livraria Saraiva e
comprei mais dois livros: um sobre histórias de guerras e outro, em inglês, de
listas, com os dez mais em vários aspectos. Lembra o Guinnes Book, só que esse
livro me pareceu bem mais instrutivo que o Guinnes.
Quando cheguei no apartamento
do meu irmão estava supercansado. O dia não foi fácil, foi de muitas andanças,
mas de poucos resultados. Apesar de cansado, à noite tinha algo em mente.
Quando estamos viajando, queremos aproveitar ao máximo nosso tempo. Fui então
me encontrar com Rogério, um amigo de São Paulo, advogado, para conversarmos, e
quem sabe assistirmos um filme da Mostra de Cinema de São Paulo e comermos e bebermos
um pouco.
Marcamos de nos encontrar no
shopping onde fica a livraria Cultura, próximo da estação de metrô Consolação,
na Avenida Paulista. Era mais ou menos 20:30, Rodrigo havia saído do trabalho
há não muito tempo. Decidimos dali ir a um bar/restaurante, acho que na Rua
Frei Caneca. Lá bebemos uma cerveja que eu nunca havia bebido: stella artois.
Muito boa.
A noite foi bem agradável.
Para os padrões paulistanos, estava meio quente. Para mim, não.
Quando deu perto de
meia-noite, pegamos o metrô. Rogério ia para a linha vermelha e eu para a azul,
creio. Quando eu cheguei na estação Santa Cruz já passava de meia-noite. Como
achei perigoso ir andando, a essa hora, até a casa do meu irmão, peguei um táxi.
O taxista não foi mal-educado, mas poderia agir com cortesia.
Terça-feira 30/10
Separei a manhã para ir ao
zoológico. Sempre gostei de bichos; na vez passada em que fui a São Paulo,
perdi a oportunidade de visitar o zôo. Nessa viagem não iria deixar escapar a
visita. Vou então ao zôo numa terça-feira de muito sol e calor – isso mesmo,
sol e calor mesmo para os padrões de São Luís. Num dia como uma terça-feira, em
que não é feriado nem nada, o zôo costuma ser mais vazio, daí dá pra ver com
mais calma os bichinhos.
Também me bateu saudade de
algumas pessoas de São Luís... vi que zoológicos são ótimos para você
lembrar-se das pessoas (limpa o veneno!)
Enquanto aguardo no terminal o
ônibus que leva do metrô Jabaquara ao zoológico, fico pensando na cidade de São
Paulo e na minha querida São Luís. Aqui, pelo menos como turista, vi que o
poder público funciona adequadamente – inclusive o municipal. Tá certo, Sampa é
a maior metrópole da América do Sul e uma das principais do mundo. Aqui temos
um transporte bom, metrô, ruas asfaltadas e quase sem buracos, com faixas de
pedestres e indicações dos nomes nas esquinas, calçadas, praças arborizadas,
parques, museus e centros culturais dos mais variados tipos. São Luís é muito
carente de serviços públicos, principalmente daqueles de responsabilidade do
município (embora o governo do Estado também deixe muito a desejar). Suas
praças estão tomadas por lixo, capim alto e jardins sem cuidado, e por
vendedores de lanches. As praças dão impressão de estarem sempre sujas, e
nossas avenidas são pouco arborizadas. Grande parte das ruas tem asfalto de
qualidade ruim ou está esburacada, além de serem estreitas e não terem calçada
– por isso as pessoas costumam caminhar no meio da rua. Água dá dia sim, dia
não, ou falta durante mais tempo. Enfim, se fosse listar seus problemas,
perderia muito tempo.
Acompanhei daqui de São Paulo
o resultado do segundo turno das eleições municipais de São Luís. Torço para
que o candidato eleito, Edvaldo Holanda Júnior, faça uma boa administração e
comece a reverter a situação difícil por que passa minha cidade, por causa de
uma longa seqüência de péssimas administrações municipais e estaduais.
Ainda estamos muito longe, mas
tomara que a classe política dirigente comece a trabalhar para de fato melhorar
a cidade, e não apenas deixá-la como está.
O zoológico é um espetáculo.
Ir ao zoo é um programa não só para crianças, mas também para jovens e adultos.
Aliás, tinha várias turmas de crianças de vários colégios, acompanhadas por
seus professores e alguns monitores do zoológico. As crianças menores iam todas
de mãos dadas, para não se perderem – tão engraçadinhas. As mais velhas, de
turmas mais avançadas, gostavam de aprontar e sair do grupo, mas logo recebiam
esculacho da professora (bem feito!).
Alguns animais chamaram mais
minha atenção: a tartaruga verde da amazônia (enorme), quatro aves (urubu-rei,
condor, águia pescadora e harpia, todas lindas). Tinha ainda o casuar e o emu,
duas espécies de aves australianas não voadoras, que em tamanho perdem só para
o avestruz. O casuar, dizem, tem um gênio forte e é mal-humorado. Uma pena que
só consegui ver um pedacinho dele, pois ele estava deitado entre as folhagens,
provavelmente protegendo-se do sol.
Infelizmente, o
elefante-africano não saiu da toca; não pude ver o maior mamífero terrestre. Os
leões e a onça-pintada também ficaram escondidos. Vi felinos menores, mas não
menos interessantes: a jaguatirica (linda, pouco maior que um gatão doméstico,
mas bem selvagem) e o jaguarundi (este último parece mais um mustelídeo que um
felino). Ah, sim, tinha a suçuarana, também chamada de puma ou onça parda,
felino de dentes enormes. Nas américas, só é menor que as onças-pintadas. Mas
vi o tigre siberiano e o maior dos carnívoros: o urso pardo, que vive nos
Estados Unidos e Canadá. Vi só sua cabeça, enorme, e daí percebi porque eles de
vez em quando devoram pessoas na América do Norte.
Consegui ver o lobo-guará. Ele
parece um cão de pernas altas e finas. Mas é um belo animal.
O serpentário chama a atenção:
cobras normalmente dão medo nas pessoas. Pra mim, sua beleza e mistério hipnotizam.
Elas são tão camufladas com o ambiente que às vezes fica difícil localizá-las
dentro do vidro, em meio a galhos e pequenos arbustos.
Não deu pra eu ver tudo do
zoológico. O sol estava tinindo, e eu fui ficando cansado. Cheguei lá 09:30 e
saí as 13:00. Fui encontrar com meu outro irmão, Thiago, que chegara a São
Paulo às 10:30 e no momento se encontrava no shopping Santa Cruz.
Ficou combinado que eu iria
até lá – onde tem uma estação de metrô – e daí iríamos bater perna pela 25 de
março e pela Santa Efigênia. Ele já havia me alertado: “espera eu chegar, pra
tu veres o que é andar”. Pernas, pra que te quero.
Descemos
na estação São Bento, no centro da cidade, para daí irmos à 25 de março.
Caminhamos e a primeira coisa que me chamou a atenção foi um sebo de lp´s, cd´s,
dvd´s e blue-rays. Eu entrei, e comecei a escolher filmes, e meu irmão do lado
de fora, esperando. Como eu demorava, ele entrou e ficou vendo algumas coisas.
Sem contar locadoras, nunca havia visto tantos filmes fora de circulação à
venda, a preços módicos. No fim das contas, levei o blu-ray de “O Grande
Ditador”, de Charles Chaplin, e os dvd´s “A Lenda”, “Pai e Filha”, “Morangos
Silvestres”, “A Doce Vida”, “Diário de uma Camareira”, “Nazarin” e “Um Peixe
Chamado Wanda”. Tudo por R$ 150,00 – sendo que só “O Grande Ditador custo 1/3
desse total. Ainda tinha intenção de levar outros, mas, como ainda estávamos no
início da jornada, e a grana curta, parei por aí.
Na Rua
25 de Março meu irmão parou mais que eu para olhar coisas. Ele estava
interessado principalmente em comprar uma bolsa de marca, para dar de presente
à esposa. E se interessou também em relógios, tanto que levou três. O ruim de
comprar lá é que os vendedores entregam sua mercadoria em grandes sacolas
pretas, que mais parecem saco de lixo. Daí, se você ver alguém na rua com uma
sacolona dessas, preta, não tenha dúvida: o que tá lá é da 25 de Março. Ou, se
você receber um presente tirado de uma sacolona preta, provavelmente ele foi
comprado na 25.
(Ah
sim, eu comprei duas bolsas lá, uma LV e outra MK)
Depois
que encontramos o que Thiago procurava, nos dirigimos para a Rua Barão de
Paranapiacaba – conhecida como a “rua do ouro”. Lá se vende jóias – jóias, não
bijouterias - a preços mais em conta: é o que se diz. Lá ele compraria outro
presente para a esposa.
Antes de chegarmos lá, avistei
um outro sebo, mais voltado para livros que para coisas áudiovisuais. Além do
mais, nem tinha mais interesse e paciência para comprar filmes, a essa altura. Nesse
sebo encontrei algo que me encantou: um livro ótimo, chamado “GRANDES
ACONTECIMENTOS QUE TRANSFORMARAM O MUNDO”. É um livro grande, encadernado, com
ilustrações e impressão de qualidade, e estava em excelente estado, quase novo.
Preço: R$ 35,00. Guardei-o na minha mochila, que já estava abarrotada com
filmes.
Depois fomos à Rua Santa
Efigênia, famosa por vender eletro-eletrônicos, coisas para computador,
videogames, celulares, chips, pen-drive, i-pads... enfim, essas coisas de
tecnologia. Daí meu irmão fez a festa. Comprou várias coisas, mas a principal
foi o videogame Xbox360, para dar de presente às crianças. Sei não, mas eu acho
que Thiago vai aproveitar mais o videogame que Bianca e Guilherme...
Na volta, pegamos o metrô e
descemos na estação Santa Cruz. Eu com mochila e uma sacola, e meu irmão com
duas sacolas. Na estação também tem o shopping Santa Cruz. Lanchamos uma pizza
na praça de alimentação. Enquanto eu falava mal de Edgard, nosso outro irmão,
para Thiago, eu derrubei meu refrigerante na mesa, no chão e nas sacolas pretas
da 25 de Março e da Santa Efigênia. Thiago disse: “Olha, bem feito, isso é
castigo! Castigo! Quem mandou tu querer falar mal dos outros? É isso que
acontece”. E eu me lavei de rir... mas falei com uma das zeladoras do shopping
a besteira que fiz. Ela foi supergentil comigo. Disse para eu não me preocupar,
que isso acontece, e trouxe papéis e panos de limpeza.
Bom, marcamos com Alcânia de
irmos jantar fora, em algum lugar. Nos encontraríamos no apartamento dela e de
Edgard, que é perto do shopping – perto
para padrões paulistas; não para um ludovicense. Comparando, talvez, ir do
metrô ao apartamento seria como andar do Tropical Shopping ao São Francisco.
E eu que já havia feito esse
percurso shopping- apartamento, ida e volta, duas vezes num só dia, estava só o
caial. Mas, lógico, dessa vez, como éramos dois, e estávamos cheio de sacolas, pegamos
um táxi. A corrida deu R$ 10,50. Mas o taxista nem respondeu quando dissemos
“boa noite”. Realmente, desisto dos taxistas paulistanos...
Quarta-feira 31/10
Bom, a quarta-feira seria uma
repetição da terça-feira em vários aspectos. Eu e Thiago combinamos de ir ao
centro de Sampa e à Rua Santa Efigênia, novamente, para passear e ele comprar
algumas coisinhas que ficaram pendentes.
Mas havia duas grandes diferenças:
1) hoje era a véspera da defesa da tese do doutorado de Edgard; 2) no final da
tarde meu pai chegaria em São Paulo, para a tese do meu irmão.
De manhã eu e Thiago saímos
cedo para bater perna. Bom, no caminho, para variar, mais um sebo me chamou a
atenção. Todos os livros custavam R$ 1,99. Além do mais, esse sebo era mais “sebo”
que os outros que visitei. Era cheio de livros, amontoados em estantes, e com
aquele cheiro de mofo e coisa velha. Lá devia ser o lar de milhões de traças.
Thiago, que tem rinite alérgica, nem se atreveu a entrar.
Lá tinha muita coisa
interessante, pena que não poderia demorar muito. Mas achei várias coisas que
procurava: Almanaque Liza 1991, Almanaque Seleções 1970 (uma espécie de
precursor do Almanaque Abril), dois pequenos livros de história chamados “A
Guerra dos Cem Anos” e “Palmares – A Tróia Esquecida”, os dois de Sérgio D. T.
Macedo. O que mais chamou minha atenção foi o livro “O Exorcista”, de William
Peter Blatty. Dizem que o livro é muito bom – melhor que o filme, que também é
muito bom. Coloquei na mochila os 6 livros e paguei R$ 12,00. Ah, sim! Lá ainda
tinha o Guinnes Book de 1997. Um livrão grande, como todos da coleção. Eu já tenho
as edições de 94/95/99/06/08/10. O de 1997 não ia acrescentar muita coisa em
termos de leitura e conhecimento, mas, por R$ 1,99, valeria a pena adquirí-lo,
ainda mais porque estava em bom estado. Eu não o levei porque já estava com as
costas doendo de carregar mochila pesada e ficava imaginando mais esse peso
nela e nas malas...
Depois era hora de Thiago ficar
procurando coisas em lojas eu, esperando. Ele teve paciência comigo, tive
paciência com ele, lógico. Ele parou numa ótima loja que vende relógios e peças
de ouro e prata, como anéis, cordões, etc. Escolheu um bem bonito, de marca, e então
me deu de presente um dos que havia comprado por R$ 25,00.
Na Santa Efigênia Thiago comprou
jogos para o xbox (eu também né), cabos para isso, para aquilo, capa para
i-pad, para smartphone, etc. Dessas coisas eu sou analfabeto de pai e mãe.
Então, nem sei o nome das coisas que ele comprou. Mas não foram poucas coisas
não. Tanto que chegamos com sacolas pretas no metrô Santa Cruz. Não fizemos o
caminho Santa Cruz-Apartamento do meu irmão a pé; fomos novamente de táxi.
Chegamos, nós dois, cansados;
havíamos saído de manhã e almoçado na rua. Almoçamos num self-service no
centro, de comida boa e barata; Comer fora em São Paulo compensa mais que em
São Luís.
Um pouco mais tarde, no começo
da noite, Edgard foi pegar meu pai no aeroporto, em Congonhas. Amanhã era o
grande dia: a apresentação da sua tese de defesa do doutorado, motivo que haveria de reunir nossa família em São Paulo.
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