Crítica de Filme: Baile Perfumado
Baile
Perfumado. Brasil, 1997.
De: Paulo Caldas, Lírio Ferreira.
Roteiro de Paulo Caldas, Lírio Ferreira, Hilton Lacerda. Com Duda Mamberti e
Luiz Carlos Vasconcelos.
"Virgulino
Ferreira, o Lampião,
Bandoleiro
das selvas nordestinas,
Sem
temer a perigo nem ruínas
Foi
o rei do cangaço no sertão
Mas
um dia sentiu no coração
O
feitiço atrativo do amor
A
mulata da terra do condor
Dominava
uma fera perigosa
Mulher
nova, bonita e carinhosa,
Faz
o homem gemer sem sentir dor"
Zé
Ramalho e Otacílio Batista,
"Mulher
Nova Bonita e Carinhosa
Faz
o Homem Gemer Sem Sentir Dor"
Coube
a um mascate libanês, Benjamin Abrahão, ser a única pessoa a filmar Lampião e
seu bando. Ele o fez na expectativa de ganhar dinheiro - como bom comerciante e
árabe que era, queria lucrar mostrando os cangaceiros para o Brasil do sul e o
estrangeiro. Bem o filme poderia se chamar: "Lampião e Abrahão - o Mito e
o Mascate Libanês"
Mas
chegar a essa "fera perigosa" não seria fácil. Não é à toa que foi um
não-brasileiro que conseguiu. Benjamin precisará usar sua influência junto aos
coronéis nordestinos e à amizade que tinha com o Padre Cícero para levantar
fundos, chegar a Lampião e convencê-lo a deixar filmar-se. Trata-se de arriscar
mais a vida que o dinheiro, descobrirá o caixeiro-viajante.
Em
resumo, Benjamin Abrahão tornou-se o único a filmar o mais famoso dos
cangaceiros e, se hoje temos aquelas imagens preciosas em preto e branco de
Lampião e seu bando, devemos a ele. O mascate não pretendia retratar
criticamente um estilo de vida, fazer apologia do banditismo ou estudar
comportamentos: queria era ganhar dinheiro mostrando em imagens o famoso homem
que desafiava o Poder Central no sertão nordestino.
Os
dois diretores têm um trabalho impecável de direção: reconstituem as filmagens
originais de Benjamin com grande precisão. O Rei do Cangaço e seus cangaceiros ganham
mais vida com as cores e sons do cinema moderno. Podemos até perceber o cheiro
do ambiente. O exercício metalingüístico do cinema ficou perfeito. Do figurino
de cor exuberante dos cangaceiros às belíssimas imagens do Rio São Francisco,
que cortava as "selvas nordestinas", Paulo Caldas e Lírio Ferreira
estão de parabéns.
Lampião,
Maria Bonita e os demais cangaceiros ainda estão mitificados - tal como Padre
Cícero. Mas "Baile Perfumado" afasta um pouco o mito e nos aproxima
perigosamente do cangaço. Nos aproxima de uma época que ficou para trás,
imortalizada em contos, canções, cordel, depoimentos e, nesse caso, nas
filmagens de um libanês caixeiro-viajante que se tornou personagem importante
da história nacional.
Cotação:
êêêê (excelente)
Imagens curtas do cangaço (para não estragar mais surpresas):
Imagens curtas do cangaço (para não estragar mais surpresas):
1 comentários
Realmente!
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