Crítica de filme - A Ilha do Dr. Moreau (1996)
A Ilha do Dr. Moreau (The
Island of Dr. Moreau). EUA, 1996. De:
John Frankenheimer. Com Marlon Brando, Val Kilmer, David Thwelis e Fairuza Balk.
96 min.
Baseado
no romance homônimo de H. G. Wells, esta foi sua terceira e mais ambiciosa
transposição para o cinema. As outras foram em 32 e 77.
Curioso
é o filme, em vários sentidos. Marlon Brando faz o Dr. Moreau, brilhante
cientista e prêmio Nobel que, numa ilha remota, procura extinguir o "gene
da maldade" do ser humano, misturando células de homens e animais —
atingindo resultados em regra grotescos. Val Kilmer é seu assistente Montgomery, neurocirurgião
transformado em "carcereiro de bestas".
Notável
o tom que Marlon Brando deu para seu Dr. Moreau: um gênio exótico, que vive
como Deus perante suas criaturas semi-humanas. Mais que exótico, é certo
dizermos que o Dr. Moreau enloqueceu. Daí fazemos um paralelo como o Cel.
Curtiz de "Apocalipse Now", interpretado pelo próprio Brando. Dois
homens enlouquecidos. O coronel enlouqueceu durante a Guerra do Vietnã e, nos
confins da selva, criou um reino próprio, guiando os nativos através de sua palavra.
O
Dr. Moreau foi um dos últimos papéis de Marlon Brando no cinema, quando o ator
estava mais de 70 anos e muitos quilos acima do peso.
Vemos
o ator muito à vontade aqui. Um dos motivos pode ter sido a demissão do
roteirista e diretor Richard Stanley logo no início das filmagens, quando não
soube lidar com um ego forte como o de Brando. O veterano John Frankenheimer
foi convocado às pressas e deixou o astro à vontade.
Curiosíssimo
seu Dr. Moreau. Vale a pena conferi-lo. Sempre que aparece as atenções
voltam-se para ele.
O
Montgomery de Val Kilmer é louco como o Dr. Moreau. À época, Val Kilmer estava
em seu auge, tendo atuado em "Batman Eternamente", "Fogo Contra
Fogo", "A Sombra e a Escuridão" e "O Santo". Daí, o
ator também se sentiu à vontade para compor seu personagem a seu bel prazer.
Completa
o elenco David Thwelis, no papel de Edward Douglas, funcionário da ONU que à
ilha chega após um acidente.
Curiosamente,
o filme convive bem com o ridículo.
"A
Ilha do Dr. Moreau" fracassou em público e crítica, recebendo várias
indicações ao Framboesa de Ouro, incluindo duas de ator coadjuvante — Marlon
Brando e Val Kilmer — diretor e roteiro. Mas o tempo lhe fez bem: assistindo quase
20 anos depois, percebe-se um olhar diferente do padrão Hollywoodiano, não
contaminado pelo politicamente correto e pela censura invisível. Não se hesitou,
por exemplo, em chamar as criaturas moureanas de aberração; talvez, hoje,
ativistas não permitiriam ofensas aos defeitos físicos dos "filhos de
Moreau" e seria o personagem de David Thwelis rotulado facista.
É
bom ver o filme; as chances de você não gostar são grandes, mas é inegável que
a partir de "A Ilha do Dr. Moreau" podemos tirar uma série de
discussões, seja a partir dos avanços da clonagem e da engenharia genética,
seja para ver no que vai dar deixar astros à vontade nos papéis.
Cotação:
êêê (ótimo)
Obs:
há uma versão do diretor atualmente, com 4 minutos a mais que a lançada à
época.
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