Crítica de filme: Death Note (2017)




Death Note (Idem). EUA, 2017. De Adam Wingard. Com Nat Wolff e Willem Dafoe. Fantasia / Terror. Rapaz encontra caderno com poder de matar o nome da pessoa escrita. 101 min.



A versão da Netflix para o mangá e anime japonês decepciona em muitos aspectos. Um deles é que, dada a ótima qualidade do mangá e do anime, matérias-primas de primeira, só se podia esperar algo bom, claro. Mas a Netflix pisou na bola, e feio, e fez um filme na melhor das hipóteses assistível. Vamos ver o que aconteceu:

Desloca-se a história para os Estados Unidos, mais precisamente, para a cidade de Seattle. Quer dizer, é aquela mesma tecla, que os norte-americanos insistem e nós não podemos deixar de observar, de transferir para o seu país uma história passada em outro lugar, em outra cultura – no caso, o Japão, terra por excelência dos animes e mangás. Nem sempre essa transferência convém, pois algumas coisas só fazem sentido no seu lugar de origem, dada sua cultura, seus valores. Exemplo: faz de conta que Odin e Thor, da mitologia viking (nórdica), reaparecem em nosso tempo. Voltariam eles para Nova Iorque, duelariam nessa cidade, seria ela o palco, em caso da produção ser norte-americana? Em outras palavras, lá que se travaria a “batalha pelo mundo”? Provavelmente sim, ainda que toda sua origem esteja ligada aos países escandinavos.

O bullying também é típico da sociedade norte-americana e já é tão corriqueiro, tão corriqueiro em filmes que aquela história do valentão da escola “tomar mochila-jogar mochila pro amigo-provocar a garota-bater no nerd que resolve enfrenta-lo” dificilmente rende. Mas é assim que Death Note começa, de forma bem previsível. Sem esforço inventivo.

O “baile de inverno” colegial, onde Light dança com Mia, é outra coisa norte-americana que não rende, não acrescenta nada à trama. Os minutos gastos ali podiam ser usados para outras coisas. Pior ainda, é embalado por uma trilha sonora horrorosa, além do que a filmagem é da categoria do seriado global Malhação.

Em determinado momento o detetive “L” saca um mandado judicial para investigar a casa de Light Turner – pois é, é preciso mostrar que os norte-americanos valorizam o processo e, principalmente, o devido processo legal. Mas, como ele conseguiu o mandato judicial? Qual a alegação dada ao juiz para revirarem a casa toda? Não quero com isso dizer que o filme deva perder preciosos minutos em baboseira jurídica. O ponto é: isso importa para a história?

No final, a produção usa toda uma parafernália incluindo o símbolo turístico da roda gigante, helicópteros da polícia, sirenes, etc.

Não bastassem os problemas de roteiro, a direção de Death Note pesa como chumbo. Não basta mostrar que Light Turner é um aluno “nerd”, “esquisitão”, é preciso mostrar todos os motivos dele ser problemático. Assim, ele sofre bullying; quando deveria ver aquele que o agrediu na escola ser punido, ele é quem sofre (pois o diretor descobre que ele faz deveres para outros alunos em troca de dinheiro); além do mais, sua mãe foi morta num acidente de carro e o assassino saiu impune; seu pai é um policial frustrado que não conseguiu colocá-lo atrás das grades.


 


As mortes são desnecessariamente violentas, elaboradas, numa alusão a Premonição. O anime não usa esses expedientes, e ainda assim, é mais contundente.

 

Seu desenvolvimento é tão rápido e passa por cima de muitas coisas. O detetive “L”, que sai ao encalço de Light Turner quando acredita estar ele por trás das mortes, descobre as coisas de forma mal explicada. Seu “modus operandi” é mal retratado. O jogo de gato-e-rato entre ele e Light, que poderia ser interessante e atrativo, nunca se concretiza. Seu intérprete, coitado, pegou uma bomba. O que mais faz é surgir do nada, pular, comer umas balinhas, irritar-se...

O problema não está no fato de um filme dispor de apenas noventa minutos a duas horas e meia para contar uma história. O Código da Vinci (2006) está aí para provar isso: em 149 minutos, deu conta do recado. O problema Death Note parece ser a latente falta de vontade em tentar algo inovador, ousado.

Pois então... para terminar, no Death Note da Netflix não há nenhuma referência ao surgimento do caderno maligno. Quem sabe façam uma continuação, chamada: “Death Note – O Começo”.

Cotação:

You May Also Like

0 comentários