Crítica de filme: Imortais
Imortais
(Immortals).
EUA, 2011. De Tarsem Singh. Com
Henry Cavill, Mickey Rourke e John Hurt. Ação / Fantasia. Na Grécia
Antiga, o rei Hipérion quer libertar os temíveis titãs. A ele se opõe o jovem
Teseu. 110 min.
Imortais, do indiano
Tarsem Singh, é um rejunte de coisas possíveis pela globalização - uma história
épica da Grécia Antiga, em superprodução hollywoodiana, dirigida por diretor
indiano – que dá numa confusão.
No
filme, Teseu é o jovem camponês que se opõe ao plano do rei heracliano Hipérion
de libertar os titãs e, assim, desencadear uma nova guerra entre aqueles e os Deuses
do Olimpo. Ele é o típico “simples-camponês-que-luta-melhor-que-qualquer-soldado”.
Descrente dos deuses, segue uma vida simples, em que defende a mãe, destratada pela
sociedade porque teve um filho bastardo, em cenas dignas de novela bíblica da
Record. A mesma lógica unilateral move Hipérion (Mickey Rourke). Ele quer
mostrar aos deuses todo seu ódio porque quando precisou deles, eles se negaram
a salvar sua família da peste. A descrença dos dois parece retirada de uma fé
judaico-cristã, de um Deus Onipotente, e não de uma fé antropomórfica grega, em
que os deuses tem atributos humanos, inclusive falhas e paixões. Isso é
misturar alhos com bugalhos, é transferir para outra época e lugar, como se
fossem universais, conflitos típicos de novela das oito.
Os
furos no roteiro são tantos e tão evidentes que irritam. Como Teseu se torna
comandante do exército helênico contra as tropas de Hipérion? De camponês
transforma-se em general que faz discurso aos soldados. Sim, mas de onde veio a
confiança dos soldados nele? O cara faz “mó” discurso, motiva os soldados, do
nada... Há dois minutos era um mero camponês – civil em oposição a militar -
ninguém o conhecia e tal... Essa transformação o filme não mostra. Mostra-nos
coisas estranhas, como o rei dos helenos como uma espécie de filósofo afeminado
para quem a melhor saída é negociar com Hipérion. Uma figura de enfeite que,
quando interessa ao roteiro, é degolada. Uma visão deformada comparável à de 300 (2007), mas neste, pelo menos a
estética de quadrinhos e de macho já aniquilam, de pronto, a verossimilhança e
criam um estilo próprio.
Tudo
passa numa velocidade e numa irresponsabilidade irritantes. A atenção que um
personagem ganha é logo esquecida – excluindo Hipérion e sua obsessão em
destruir os deuses, e Teseu em sua vontade de honrar a mãe.
A
reinvenção do labirinto do minotauro é tão tosca e apressada que só percebemos,
depois, que se tratava realmente da célebre lenda grega. (“Ah é!! Realmente
aquele era o minotauro!! Mas achei o labirinto tão pequenininho...”). Assim, o
exército de Hipérion mata as pessoas da cidade de computação gráfica de Teseu, este
é feito escravo e arranja um “típico-amigo-do-mocinho”, Hipérion mata com fúria
seus comandados que falham, etc.
Henry
Calvill faz Teseu e, como ator, se sai um ótimo modelo do físico grego. Stephen
Dorff tá aceitando qualquer papel e nem John Hurt se salva como o velho que dá
conselhos a Teseu. Nem teria como se salvar, pois ao seu personagem restam
aquelas frases feitas, aquelas aparições com hora e lugar marcado. Mesmo a cena
de sexo, a parte apimentada do filme, em que Teseu tira a virgindade do oráculo
(a atriz indiana Freida Pinto), não funciona apesar da beleza dos atores, tamanha
a bagunça e a artificialidade.
Quando
tudo dá mal, corre-se para o abrigo dos efeitos especiais. Mas nem aqui eles
ajudam. A fotografia escurecida é irritante e o uso over da computação gráfica
torna tudo irreal e distante, pra não dizer brega. Sem dizer que os titãs tem
uma concepção visual decepcionante, misturando zumbis com vampiros com orcs.
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