Crítica de filme: Mãe! (2017)



Mãe! (Mother!). EUA, 2017. De Darren Aronofsky. Com Javier Bardem e Jennifer Lawrence. Drama / Suspense. Casal em casa isolada recebe convidado estranho e inesperado. 115 min.

 
Assisti Mãe!, do diretor Darren Aronofsky, tendo visto apenas seu trailer. Não li nada a respeito dele – quando me interesso por um filme, procuro saber o menos possível dele, pois pra mim muita informação estraga a surpresa. Gosto de ser surpreendido, de não saber o que vem pela frente ou, pelo menos, de só descobrir na hora o que me espera. Odeio spoiler. Não que eu não saiba absolutamente nada sobre o que vá assistir – isso é impossível. Mas normalmente, um trailer, um título, os nomes envolvidos na produção já me bastam para garantir o interesse ou desinteresse.

Pois bem, pensava que Mãe! Fosse um thriller de suspense, algo como Sob o Domínio do Medo ou um Adivinhe Quem Vem Para Jantar sombrio. Enfim, o trailer, em que Javier Bardem e Jennifer Lawrence interpretam marido e mulher que recebem estranhos convidados numa imponente casa, me fez imaginar mil coisas. Mas não, nunca passou nem passaria pela minha cabeça que o filme fosse o que é.

Lá em torno de uma hora de projeção, crescia em mim a tensão sobre quem eram as pessoas interpretadas por Ed Harris e Michelle Pfeiffer, e o que faziam naquela casa que consideravam sua, e quais suas intenções com o casal e, mais ainda, como foram parar lá. O marido gostava deles, de recebe-los, mas a mulher não. Pensei: “São fantasmas. A casa deve ter pegado fogo e eles são na verdade o pai e a mãe do Javier Bardem. Ele ainda não contou para a esposa quem são, mas vai contar”.

Depois de mais um tempinho me dei conta que Javier Bardem é Deus, que Jennifer Lawrence é a Terra, e que aquele monte de pessoas é a humanidade, ruidosa, barulhenta, mal educada, teimosa, violenta. Ora, Javier Bardem gostava das pessoas, gostava da louvação delas às suas obras (seus poemas), as recebia bem em sua casa e tinha a maior paciência com elas. Mas, ainda assim, ele configura um Deus orgulhoso, que gosta de ser adorado, que se compraze na adoração. A metáfora ficou clara.

Quando a personagem de Jennifer Lawrence engravida, e tem um bebê, e este recebe presentes numa cesta, tudo ficou cristalino. Aquele bebê, nascido na algazarra da casa, é Jesus Cristo.

Não vou contar mais e dar spoiler. O filme é realmente oito ou oitenta. Eu gostei, mas, nos últimos trinta minutos, fica repetitivo, cansativo. E, à parte a metáfora inteligente, nada é acrescentado, deixando a ideia de ser a obra, de certa forma, mais exercício de estilo que outra coisa.

Pareceu-me visível a influência de Lars Von Trier e seu Melancolia no filme, pelas cenas do finzinho e do começo. Mas Lars Von Trier é um cineasta único em seu pessimismo e concepção cinematográfica, e Aronofsky, perto dele, é entusiasta.

De qualquer modo, é um filme que não sai fácil da cabeça.

Cotação:

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1 comentários

  1. Achei o filme um pouco confuso e angustiante e levou um tempo para considerar que se fundamentava na bíblia.
    Mesmo com um deus menos Pai, digo que valeu porque o filme prendeu minha atenção até o fim.

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