O Ditador
(The Dictador)
EUA,
2012. De Larry Charles. Com Sacha Baron Cohen, Ben Kingsley
e Anna Faris. Ditador
de fictício país árabe tem sósia colocado em seu lugar durante conferência da
ONU.
Aladeen
(criado por Sacha Baron Cohen), ditador do fictício país árabe Wadiya, é uma mistura
de vários ditadores e presidentes de países árabes verdadeiros. Ele é a combinação de Saddan Hussein (Iraque), Muammar Kadafi (Líbia), Ahmadinejad (Irã)
e Bashar Al-Assad (Síria), dentre outros. Seu país é rico em petróleo, mas ele explora
o povo, manda matar quem discorde dele e quer enriquecer urânio com fins
pacíficos. Sua marca registrada é sua barba enorme... Quando vai à ONU para uma
conferência, sofre um golpe: tem sua barba característica cortada e um sósia é
posto em seu lugar.
Sem
o poder, Aladeen é mais um em meio à multidão de Nova Iorque.
Não
pude deixar de notar em “O Ditador” ecos com “O Grande Ditador” (1940), de
Charles Chaplin. Os dois são incomparáveis, em termos de qualidade – a favor de
Chaplin é claro. Mas um lembra o outro.
Do
mesmo modo Charles Chaplin concebeu, 70 anos antes, seu ditador Adenoid Hynkel,
uma sátira a Hitler, que nessa época assustava o mundo com sua máquina de
guerra. Mas o ditador, sem suas vestes, não passava de um imbecil na
multidão, possível vítima de seu próprio regime. Chaplin, gênio do cinema, riu
de um ditador de verdade, que levava a Europa à Segunda Guerra Mundial.
Chaplin
deu um tom claramente político e anti-guerra ao seu filme, quando colocou na
mesma história o doce Carlitos e o pior dos ditadores. Você ri muito no filme
de Chaplin; também rirá no filme do Larry Charles. Só que o nível é outro. Sacha
Baron Cohen é ótimo ator e criou dois grandes personagens antes do ditador: o
cazaque Borat e o homossexual Brünu. Só que seu humor é do tipo baixo calão, tendo,
pra você ter uma idéia, em seus três
filmes, mostrado a genitália de seus personagens...
Sacha
Baron Cohen ri principalmente do politicamente correto – cuja uma das
principais vertentes é enaltecer “o outro” (seja uma outra pessoa, uma outra
cultura, uma minoria). Esculhamba com gays, negros, árabes, feministas, judeus, cazaques,
mas, quando faz isso, mira na verdade os norte-americanos e sua “cultura
superior”, esteja ela na valorização da liberdade, da libido, da diversidade e
da democracia. Hits americanos são cantados em árabe. Quem mais diria aos americanos que seu presidente Bush deve “ganhar
a guerra contra Saddan e depois beber o sangue de todos os infiéis iraquianos”
(Borat)? Ou que é ótimo ser um pai gay, depois de adotar seu filho na África,
trocando a criança por um i-pad (Brunü)? Seu humor é mordaz quando vê a América
aos olhos de alguém de fora que quer compreendê-la, para ser aceito pelos próprios
norte-americanos.
Pudesse
“O Ditador” ser mais trabalhado e coeso, teríamos um filme melhor. O roteiro prioriza
produzir piadas a contar uma história sarcástica. Além do mais, tudo se passa
muito rápido; às vezes nem dá tempo aproveitar uma cena engraçada que logo vem
outra, nem te deixando terminar de saborear a anterior. Sacha Baron Cohen é
engraçado e talentoso, mas não foi com “O Ditador” que voltou ao nível de “Borat
– O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América”, seu
primeiro grande sucesso, de 2006.
Cotação:
êê (bom)
Assistido
em 26 de agosto de 2012.